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Alma

Alma, Espiritualidade

É importante pensar sobre a morte e estar preparado para ela

1 de dezembro de 2017

A única certeza que temos na vida é a de que vamos morrer. Apesar disso, falar sobre a morte é um verdadeiro tabu na sociedade atual – principalmente nas culturas ocidentais. Pensar sobre a morte é crucial para que tenhamos uma vida madura, consciente e responsável. Se inevitavelmente morreremos um dia, precisamos estar preparados para quando isso acontecer. Pense: se morrer amanhã, o que você deixará para o mundo e seus descendentes?

Por que pensar sobre a morte?

Refletir que cedo ou tarde morreremos nos estimula a ter uma vida com mais qualidade e propósito. Afinal, quando nos lembramos que nossa passagem por esta vida tem prazo de validade, tendemos a querer fazer valer a pena nossa existência.

Em “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, obra clássica da espiritualidade e bestseller internacional, o autor Sogyal Rinpoche, monge budista, diz ter ficado surpreso quando percebeu a negação da morte no mundo ocidental. “Isso quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado por ela. Até falar da morte é considerado mórbido, e muitos acham que fazer uma simples menção a ela pode atraí-la sobre si”.

Segundo Rinpoche, são desastrosos os efeitos da negação da morte não só na esfera individual, mas para o planeta inteiro. Isso porque acabamos por não desenvolver uma visão a longo prazo. “Assim, nada as refreia [as pessoas] de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro”.

Pensar na morte é uma forma de prevenção

Na Filosofia do Bonsai pensar na morte faz parte do tema prevenção. A prática da prevenção é essencial em todos os setores da vida, tanto no que diz respeito à saúde física e mental como nas relações humanas e no ambiente profissional. O maior benefício da prevenção é que é feita com medidas simples e rotineiras, diferentemente de ações drásticas, custosas e complexas que geralmente são necessárias quando nos vemos diante de um grande problema ou doença grave.

De acordo com Alexandre Tagawa, idealizador da filosofia, pensar na morte pode até ser um assunto triste, mas importante. “Ninguém quer pensar sobre a morte mas ela faz parte da vida e é importante estar preparado para o bem dos que ficam”.

Tagawa questiona: se alguma coisa acontecer a você, os seus descendentes estarão seguros? Você tem seguro de vida, por exemplo? Quantas pendências você deixaria hoje, como dívidas ou desavenças? “É importante pensarmos nisso para não deixar nada para a próxima geração. Muitas vezes não nos damos conta de quantas pessoas dependem de nós, mas é a vida deles que vai ser impactada com a nossa morte”.

Se pensarmos em uma proporção maior ainda, tudo o que fazemos diariamente é uma forma de plantar sementes para um amanhã melhor não só para os nossos próximos, mas para a sociedade como um todo.

Ao pensarmos na vida como algo maior e parte de um todo, refletir sobre a morte é crucial. É como diz o monge Rinpoche: “Para quem se preparou e praticou, a morte não chega como uma derrota, mas como um trunfo, o coroamento da vida em seu mais glorioso instante”.

Alma, Meditação

Aprenda com a história do ‘homem mais feliz do mundo’

29 de novembro de 2017

Inúmeras pesquisas já comprovaram os benefícios da meditação para o cérebro. Em uma delas, o monge budista Matthieu Ricard foi considerado o “homem mais feliz do mundo”. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, identificaram nele a produção sem precedente de ondas cerebrais ligadas à capacidade de atenção, consciência, aprendizado e memória, além de uma redução da propensão à negatividade.

A história do ‘homem mais feliz do mundo’

Matthieu é um ex-cientista francês de 71 anos que abdicou da carreira como pesquisador para se tornar monge. Ele tinha 26 anos quando, após obter um Ph.D. em genética molecular no Instituto Pasteur, decidiu se concentrar na prática do Budismo Tibetano. Desde então, há mais de 50 anos estuda com grandes mestres da tradição e é tradutor de Dalai Lama para o francês.

As pesquisas no cérebro do monge foram iniciadas em 2008, na Universidade de Wisconsin. O neurocientista Richard Davidson conectou sensores no cérebro de Matthieu e, usando técnicas de ressonância magnética funcional, conseguiu demonstrar que alterações positivas significativas no comportamento cerebral podem ser ativadas através da meditação e outras “práticas contemplativas”.

Os resultados mostraram atividade elevada no segmento esquerdo do córtex pré-frontal do cérebro, se comparado ao direito. Quando o monge meditou, o cérebro dele produziu níveis de ondas gama ligadas à consciência, atenção, aprendizado e memória que nunca haviam sido relatados em estudos da neurociência. Além disso, foi comprovado que, por conta da meditação, ele tem capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade.

Dicas do monge para ser feliz

“Felicidade não é a busca infinita por uma série de experiências prazerosas. Isso é uma receita para a exaustão”, diz o monge tibetano, de acordo com artigo publicado no site britânico BBC. De acordo com Matthieu, “felicidade é um jeito de ser. É um estado mental ótimo, excepcionalmente saudável, que dá a você os recursos para lidar com os altos e baixos da vida.”

O monge dá cinco dicas para ser feliz, que estão disponíveis em vídeo no YouTube produzido pela GQ magazine:

  1. Não se preocupe com o que não tem solução: se há como resolver o problema, resolva. Caso não, relaxe e procure outras coisas para fazer.
  2. Felicidade exige treino: há muitas coisas boas a serem usufruídas na vida, como amor, atenção, liberdade e paz, mas elas não surgem do dia para a noite – precisam ser treinadas. É como aprender a tocar piano: não podemos fazer isso do dia para a noite, exige dedicação.
  3. Encontre sua paixão: saber o que te faz feliz é algo que você realmente deve perguntar a si mesmo. O que realmente importa para você? É como acender uma chama. Você tem que encontrar qual é a sua e fazer o que for necessário para alcançá-la.
  4. Felicidade para todos: o que faz mal para os outros não pode fazer bem para nós. Faça o seu melhor para praticar a compaixão. Procure se livrar de sentimentos ruins contra si e os outros e busque formas de compartilhar isso com os demais.
  5. Sirva: esteja a serviço da vida.

Ele faz isso compartilhando seus aprendizados como monge. Como você pode servir ao mundo?

Alma, Espiritualidade

Como praticar o desapego e impedir que as coisas possuam você

28 de novembro de 2017

“O desapego não significa que você não deva possuir nada, mas sim que nada deve possuir você”, diz sábia máxima atribuída a Ali Ibn abi Talib, primo, genro e sucessor de Maomé. Apesar de Ali ter vivido por volta do ano 600 d. C, a frase reflete uma preocupação bastante atual. Muito tem se falado sobre o desprendimento de bens materiais e até mesmo de crenças e ideias que nos prejudicam. Mas como conseguir praticar o desapego?

O apego está atrelado ao sofrimento

Muitas vezes imaginamos que ser desapegado é não possuir ou não querer ter nada. Contudo, o desapego está atrelado ao sofrimento causado pela posse – e não por ter as coisas em si. Ou seja, a pessoa desapegada tem as coisas, mas não sofre demasiadamente quando deixar de tê-las.

Podemos batalhar para comprar uma casa, conquistar um emprego melhor, ter um bom relacionamento ou um carro melhor. Contudo, não podemos condicionar as nossas vidas a essas posses ou circunstâncias.

“O desapego é quando você tem as coisas, elas passam por você, você passa por elas, mas com uma certa leveza”, sugere a Monja Coen, da tradição zen budista, em vídeo disponível no YouTube. “Você pode ter. Porém, ao mesmo tempo não está aprisionado pelas coisas materiais, nem mesmo emocionais e muito menos espirituais”.

A monja nos faz refletir que estamos apegados espiritualmente quando acreditamos que nossa crença e maneira de ser é a única possível e não compreendemos nada mais além disso. “Desapego significa estar aberto a realidade à qual você está vivendo”, completa.

‘O apego nos deixa ancorados’

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, passou por uma experiência que o fez perceber o quanto o apego nos remete ao sofrimento. Ele perdeu sua avó, vítima de um assalto, num episódio muito triste em sua vida. Após a partida da avó, ele guardou a aliança dela como recordação.

Contudo, com o passar do tempo percebeu que estava apegado ao objeto, tendo a necessidade de tê-lo por perto e sempre à vista. Em determinado momento, fez um exercício de desapegar-se da aliança e, segundo ele, a sensação foi muito boa. “Fez bem. De alguma maneira ter a aliança fazia com que eu segurasse a minha avó. Aquela aliança era um apego. Era como se eu disse: ‘é meu, não mexe nisso que é da minha avó.”

Para Tagawa, o exercício com a aliança o ajudou a ser menos apegado às coisas. Com isso, o sofrimento vai embora junto, avalia, uma vez que deixamos de lado a sensação de posse, de precisar ter algo conosco. Uma vez desprendidos, ficamos livres e leves. A nossa felicidade não fica condicionada.

“Apegada é a pessoa que passa uma cola na mão, gruda uma coisa e não descola de jeito nenhum. Se eu perder isso, eu mato ou morro por isso, eu sofro”, sugere a Monja Coen.

Como não temos o controle sobre tudo o que acontece em nossas vidas, se um dia temos algo e amanhã podemos não ter mais, precisamos estar preparados para mudanças. “De repente, por inúmeras causas ou condições, você pode perder tudo. E você pode dizer: que triste, que pena. Por onde eu recomeço? E não por onde eu me mato ou por onde vou matar alguém”, diz a monja.

Alma, Meditação

A importância de controlar os pensamentos negativos

14 de novembro de 2017

Você já parou para pensar em quantos pensamentos negativos passam pela sua cabeça diariamente? Especialistas em neurociência afirmam que a mente humana é mais voltada para o lado negativo do que positivo. Cabe a nós treinar o nosso cérebro para “domá-lo” e sermos fortes para pensar no lado bom das coisas; afinal, construímos a nossa realidade com base no que pensamos.

Temos mais pensamentos negativos?

Nosso cérebro produz de 12 mil a 50 mil pensamentos por dia, sendo que 80% deles são negativos, estimou a Fundação Nacional da Ciência norte-americana (National Science Foundation) em artigo publicado em 2005, de acordo com informações disponíveis na internet. Outras estimativas avaliam em 60 mil pensamentos por dia – sendo de 50 a 60% negativos.

Segundo o neurocientista Pedro Calabrez, é cientificamente comprovado que a mente humana é mais voltada para o lado negativo do que positivo. Por conta disso, precisamos exercitar o lado otimista dos pensamentos para que os pessimistas não nos consumam – assim como um músculo que fica flácido se não é utilizado.

“É fácil você perceber como a dor de perder mil reais é maior do que o prazer de ganhar mil reais. Curiosamente, a gente sabe que é a mesma coisa, mas a dor é maior”, afirmou Calabrez em entrevista à rádio CBN.

Calabrez afirma que é recomendável exercitar o pensamento positivo e o otimismo diariamente, o que só nos trará benefícios. Ele sugere a prática do Diário das Três Bênçãos.

Como controlar os pensamentos negativos

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, afirma que sempre teve muitos pensamentos negativos, como medo de as coisas darem errado, sentimentos de insegurança e incapacidade. “Vinham pensamentos das coisas darem errado em relação ao trabalho. Eu ficava com medo de perder cliente, por exemplo. Em relação aos pensamentos sobre a família também, tinha dias que eu passava o dia inteiro sentindo raiva.”

A prática diária de meditação, entoação de mantras por meio de rituais e exercícios físicos matinais é o que o tem ajudado a “combater” esses pensamentos negativos. Além disso, cuidar da alimentação também é importante para aumentar o sentimento de bem-estar. Ele garante que faz total diferença.

“Depois que eu passei a fazer a prática [da Filosofia do Bonsai] o sentimento negativo ainda existe, porém, quando ele vem eu canalizo ele, como se eu tivesse uma maneira agora de jogar para o universo, liberá-lo. Eu não deixo ele me dominar.”

Tagawa assegura que, apesar de os pensamentos negativos ainda pairarem sobre a sua cabeça, atualmente ele tem mais controle sobre eles. “Quando vem um nervoso, vem o desequilíbrio, eu respiro dez vezes. Quando terminam as dez respirações, a maneira que eu ia conduzir determinada situação vem mais amena, pois eu tenho um tempo de escolha”, explica.

Por meio da respiração ele consegue “mudar de canal”, passando da raiva para o autocontrole. “Antes eu oscilava mais. Tinha altos e baixos muito profundos. Hoje o meu dia é mais linear, graças à prática da filosofia.”

Alma, Propósito

Ter uma vida plena, feliz e equilibrada exige responsabilidade

25 de outubro de 2017

Por Gabriela Gasparin

Ter uma vida plena, satisfatória e com harmonia exige responsabilidade. Assim como uma casa precisa de faxina rotineiramente para que tudo fique limpo e em ordem, a nossa existência também necessita de atenção para atingir sua plenitude. Afinal, se buscamos a felicidade e o equilíbrio, precisamos agir para que isso aconteça.

Como ter uma vida plena

“Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos impõe”, disse o escritor inglês Oscar Wilde.

Mas o que o é ser pleno? De acordo com o dicionário da língua portuguesa, pleno significa “cheio, repleto, completo, absoluto, perfeito, acabado”. A plenitude é a qualidade, o estado pleno.

Se queremos viver a vida com integridade, como sugere Oscar Wilde, precisamos assumir responsabilidade sobre nossas escolhas. Não é do dia para a noite que acordamos com tudo organizado e felizes com a rotina que levamos. Necessariamente precisamos assumir compromisso com nós mesmos em busca da vida que queremos ter.

Se ter uma vida plena significa estar completo, a pergunta que devemos fazer para nós mesmos diariamente é: o que me deixa inteiro? Do que preciso “encher” a minha vida para que eu seja mais feliz, mais íntegro?

Da mesma forma, é importante questionarmos o que nos deixa “vazios”. Quais são as ações, momentos e situações que nos afastam da sensação de plenitude? É a partir dessa consciência que conseguimos nos organizar para ter uma existência mais feliz e significativa.

Assim como sugere Oscar Wilde, somos nós que fazemos essa escolha. Caso contrário, assumimos a “existência degradante que o mundo nos impõe”.

‘Tudo está na questão da consciência’

A Filosofia do Bonsai, por exemplo, é a forma que o empresário Alexandre Tagawa encontrou para assumir responsabilidade sobre a própria vida, encontrando o equilíbrio.

Tudo está na questão da consciência. Quando aparece uma situação na minha vida que pode me levar para um caminho que eu não quero ir, eu já consigo me questionar na hora e mudar de direção”, afirma. De acordo com ele, práticas como meditação, alimentação saudável, exercícios físicos e rituais diários ajudam a manter esse equilíbrio e discernimento.

Por isso, assumir a responsabilidade sobre os atos é fundamental. A partir do momento que temos consciência do que estamos fazendo, não podemos mais justificar dizendo “ah, foi sem querer”, defende Tagawa. “Você sabe que não é. Porque quando você está presente, na terra, firme na sua totalidade, você não pode dizer que não sabe o que está fazendo.”

Estar consciente nos dá condições de tomar a decisão correta. Afinal, estar compromissado consigo mesmo não impede que os pensamentos ruins e tentações apareçam. O que muda é nossa atitude diante delas.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

Alma, Propósito

‘Eu não sou o que me acontece, eu sou o que escolho me transformar’

16 de outubro de 2017

Por Gabriela Gasparin

“Eu não sou o que me acontece, eu sou o que escolho me transformar”, disse o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung, fundador da escola da Psicologia Analítica. Há uma linha de pensamentos que, assim como esse, refletem sobre a importância de agirmos com consciência a fim de nos tornarmos o que desejamos ser.

Ter consciência da nossa responsabilidade sobre o que acontece na nossa vida é fator importante rumo à realização de sonhos e desejos. Muitas vezes colocamos a culpa por o que nos acontece no trabalho, no parceiro, na família e no governo, mas esquecemos que diariamente temos a possibilidade de mudar de rota. Em reflexão complementar à frase citada acima, Jung disse: “até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você irá chamá-lo de destino”.

Mas o que seria agir de forma consciente?

Existem diversos significados dados para a palavra consciência nos campos da psicologia e filosofia. De uma forma resumida, podemos dizer que é uma percepção que temos sobre o que se passa com nós mesmos, na intimidade. Trata-se do sentimento, a faculdade, o conhecimento que nos permitem compreender aspectos no nosso mundo interior, vivenciá-los e experimentá-los.

Negligenciamos nossa consciência quando agimos de forma automática, sem pensar, sem sentir ou refletir. Por outro lado, atuar de forma consciente é trazer para nós as responsabilidades sobre os nossos atos e agir diariamente sobre eles. “Quando um ato é verdadeiro para a natureza de alguém, provavelmente resultará em resultados verdadeiros no campo da ação”, diz o escritor Parker J. Palmer no livro Vida Ativa.

“O que é necessário para mudar uma pessoa é mudar sua consciência de si mesma”, afirmou o psicólogo Abraham Maslow. E acrescentou: “para quem só sabe usar o martelo, todo problema é um prego”.

Ou seja, quantas vezes estamos infelizes com alguma situação, mas seguimos vivendo nela, sem fazer absolutamente nada para mudar? Isso é não dar ouvidos para a consciência. Um exemplo é seguir em um relacionamento, emprego ou amizade mesmo sabendo internamente que tal situação nos faz mal.

Às vezes não conseguimos mudar de imediato. Nesse caso, agir com consciência é ser maduro para compreender: tal situação ocorre, não tenho como mudá-la, vou mudar então a forma que lido com ela. “A verdade é sempre preferível à ilusão”, ressalta Palmer.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

Alma, Propósito

Nunca está satisfeito com a vida? Tenha controle sobre seus desejos

11 de outubro de 2017

Por Gabriela Gasparin

“Nada é bastante para o homem para quem tudo é demasiado pouco”, disse o filósofo grego Epicuro, nascido em 341 a.C., cujos pensamentos são considerados bastante atuais nos dias de hoje. O pensador nos estimula a refletir sobre nossa a desenfreada busca por satisfazer desejos “insaciáveis”. Afinal, é importante estarmos conscientes do que desejamos e quais prazeres buscamos saciar.

Quais são os seus desejos?

Epicuro, de certa forma, faz uma apologia à uma vida sem excessos. Afirma em sua filosofia que alcançamos a felicidade ao controlar os nossos desejos – ou seja, desejando as coisas de forma moderada. Por meio da saúde do corpo e a serenidade do espírito, podemos encontrar a tranquilidade e a felicidade, garante. Do contrário, atraímos perturbações e a infelicidade.

Para Epicuro, há três tipos de desejo: “os naturais e necessários”, que suprem necessidades básicas, como alimentar-se e dormir (sem as quais, morremos); “os desejos naturais e não necessários”, como o sexo, gula, excesso de sono e embriaguez, por exemplo. E os “não naturais e não necessários”: como glória, sucesso, luxo, riqueza, etc, vistos como “vazios” pelo pensador.

Tudo o que desejamos deve ser satisfeito?

Os tipos de desejo elencados por Epicuro podem nos ajudar a refletir sobre o que queremos e por quê. Muitas vezes buscamos sanar prazeres para preencher algo que nada tem a ver com sanar uma necessidade do nosso corpo. Quantas vezes recorremos à comida em excesso, ao consumo, à fama ou ao poder apenas para suprir uma ansiedade ou sentimento de tristeza?

Segundo o filósofo, devemos buscar a satisfação dos desejos “naturais e necessários” com comedimento – afinal, comer e beber demais com frequência pode nos causar mal estar e nos afastar da felicidade. Com relação ao segundo grupo, podemos satisfazê-lo, mas pode fazer mal ao nosso espírito se buscados em excesso.

Contudo, é com relação ao terceiro grupo de desejos que podemos refletir: de fato precisamos saciá-los? No livro “A vida que vale a pena ser vivida”, os autores Clóvis de Barros Filho e Arthut Meucci explicam que a satisfação dos desejos “não naturais e não necessários” é repudiada por Epicuro. “Todos esses desejos, se realizados, nada agregam ao bem-estar, não prolongam a vida e não trazem tranquilidade para o corpo e para a alma”, defendem.

Outra reflexão que os autores levantam é o quanto buscamos no consumo uma nova posição ou identificação. “Quase todas são artificiais e, portanto, não necessárias. Assim, teremos mais posses, mais coisas do que nos vangloriar, mas continuaremos tristes.”

Desejamos para suprir o sofrimento

 Os prazeres têm muito a ver com o sofrimento: afinal, bebemos água para aplacar a sede, dormirmos para descansar, procuramos uma casa não só por proteção, mas também conforto. Até mesmo a busca pela beleza pode ser sadia – uma vez que o belo alegra nossos olhos e alma.

Não devemos eliminar os desejos, mas refletir a origem deles e qual dor buscar sanar. “Posso perceber meus desejos por qualquer coisa ou pessoa. Posso desejar ter um templo, por exemplo. Posso desejar me alimentar melhor. Posso desejar alcançar a iluminação suprema. Posso desejar consumir de forma responsável”, afirma a monja zen budista conhecida como Monja Coen, em sua página na internet.

Diferente é o apego, diz: “apego é como se passasse melado, cola na mão. Ficamos grudados, limitados, causamos sofrimento e sofremos. Livrar-se dos apegos é estar satisfeita, satisfeito com a realidade tal qual é”.

Avaliar os desejos é justamente importante ferramenta para conseguir realizar aqueles que de fato nos levam à felicidade – em vez de proporcionar apenas satisfação momentânea e, no futuro, resultam em culpa e mais mal estar. Talvez nos tempos de hoje Epicuro pudesse nos aconselhar com um “deseje com moderação.”

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

Alma, Propósito

Aprenda a estabelecer prioridades na vida

11 de outubro de 2017

Quem tudo quer, nada tem”, já diz a sabedoria popular. Você já viveu uma situação onde buscou muitas coisas e, ao final, não conseguiu nada? Isso ocorre justamente porque precisamos estabelecer prioridades na vida e focar nelas para alcançar objetivos. Caso contrário, viveremos sempre querendo tudo e não tendo nada.

Como estabelecer prioridades na vida

Querer ter vários amigos e não conseguir estar presente em encontros; desejar atender bem muitos clientes e fazer uma entrega sofrida; tentar agradar a todos os familiares. Foi querendo “abraçar o mundo” que Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, percebeu que “não estava abraçando ninguém”.

Aos poucos Tagawa percebeu a importância de ter foco em determinados setores da vida para conseguir evoluir como ser humano e crescer nos negócios. “Eu não conseguia fazer tudo aquilo que eu gostaria. Então, em vez de eu ficar dividindo energia em diversas coisas, eu decidi que é melhor me concentrar em prioridades”, explica.

Fazer algo bem feito

Focar na qualidade e não na quantidade é uma escolha importante para quem deseja evoluir em qualquer nível da vida. O que adianta fazer cursos de três idiomas ao mesmo tempo, se não conseguir falar bem nenhum deles? Ou fazer investimentos pensando no futuro, mas gastar muito dinheiro?

Na Filosofia do Bonsai, o equilíbrio é o principal conceito norteador. A miniárvore é uma natureza moldada pelas nossas mãos. Fazendo uma analogia com nossas vidas, devemos refletir como as moldamos para atingir o objetivo que queremos. Temos que estar conscientes que não damos conta de tudo. E saber fazer escolhas é fundamental.

“Eu tenho muitos amigos? Não. Percebi que são poucos amigos que eu consigo manter acesos. Não adianta a gente ter milhares de amigos e no fim não cuidar de nenhum direito”, esclarece Tagawa.

É preciso escolher entre ter uma plantação de eucaliptos ou um jardim de bonsais, explica Tagawa. No eucalipto produzido em série as raízes são curtas, todas as árvores são iguais e logo são cortadas para o uso da madeira.

Já o bonsai leva anos para adquirir uma copa robusta, exige cuidado diário e atenção: porém, a árvore é bela e exótica. “Então eu acho que o grande aprendizado é: como não podemos ter tudo na vida, façamos escolhas. E as escolhas que fizermos, façamos bem feito.”

Equilíbrio na Filosofia do Bonsai 

É importante não cairmos no erro de fazer “mínimo de tudo e o máximo de nada” ou seja: querer fazer tudo ao mesmo tempo e não concluir nada com qualidade. As práticas da Filosofia do Bonsai ajudaram Tagawa a se conhecer melhor, ter mais calma e a focar em atividades. “Eu fazia o mínimo de tudo porque eu queria dar conta, mas você não consegue fazer tudo”.

Afinal, se “quem quer abraçar o mundo acaba não abraçando ninguém”, melhor dar um abraço bem apertado naqueles que nossos braços alcançam, não é mesmo?

Alma, Propósito

Qual é a diferença entre propósito e missão de vida?

4 de outubro de 2017

Por Gabriela Gasparin

Muitas pessoas buscam um propósito e uma missão de vida. Cansadas de seguirem a jornada no “automático”, apenas reproduzindo padrões estabelecidos na sociedade, procuram algo maior para guiar os seus dias. Ao longo dessa caminhada, é importante entender a diferença entre propósito e missão. Afinal, ambos são essenciais para nos guiar rumo à vida que queremos ter.

Qual é a diferença entre propósito e missão?

De uma forma bem resumida, quando temos um propósito claro fica mais fácil encontrar a nossa missão. Confundiu ainda mais? Então vamos lá: o propósito é algo que vem do nosso âmago, um desejo interno que nos move diariamente. A missão já é mais prática e implica necessariamente em uma ação concreta a ser realizada.

O que é propósito?

O que te faz acordar todos os dias e seguir em frente, mesmo ante as adversidades? O que te move interiormente a fazer o que faz? Ao responder essas perguntas chegamos mais perto de qual é o nosso propósito. A resposta geralmente terá conexão com algum sentimento ou valor mais profundo.

Segue a resposta encontrada no Google para a busca “o que é propósito”:

Propósito

Substantivo masculino

  1. intenção (de fazer algo); projeto, desígnio. 2. aquilo que se busca alcançar; objetivo, finalidade, intuito. 3. aquilo a que alguém se propôs ou por que se decidiu; decisão, determinação, resolução.

Por exemplo, uma pessoa poderia dizer: “eu acredito que o autoconhecimento é a chave para uma vida mais plena e harmônica. O meu propósito de vida é me aprofundar cada vez mais nesse tema e estar apto a compartilhar com os demais tal sentimento de plenitude, proporcionando tranquilidade na vida em sociedade e uma conexão maior entre mim, os outros seres e o universo”.

Profundo, não? Mas o propósito é assim mesmo: geralmente conectado com algo maior, grandioso. Em livro intitulado “Por que fazemos o que fazemos” o filósofo Mário Sérgio Cortella afirma: “uma vida com propósito é aquela em que eu entenda as razões pelas quais faço o que faço e pelas quais claramente deixo de fazer o que não faço.” Segundo ele, a busca por um propósito no trabalho é uma das maiores aflições contemporâneas.

O que é missão?

Com base no exemplo usado no propósito, a mesma pessoa poderia responder: “a minha missão na vida é ajudar o máximo de pessoas possível a praticarem o autoconhecimento. Para isso, vou estudar psicologia e me capacitar cada vez mais nessa área.”

A missão sempre vai implicar uma ação, uma atitude da nossa parte. Ela claramente está relacionada com o propósito, mas não é a mesma coisa.

Vamos novamente recorrer ao resultado do Google para a busca o que é missão:

Missão

Substantivo feminino

  1. incumbência que alguém deve executar a pedido ou por ordem de outrem; encargo. 2. conjunto de pessoas a que se confere uma tarefa. 3. dever a cumprir; obrigação.

É claro que a definição do dicionário não corresponde exatamente ao sentido de “missão de vida”, mas ao comparar o significado de “propósito” e “missão” conseguimos entender claramente a diferença das duas.

E não tenha dúvidas, saber claramente o que nos move ajuda, e muito, a sermos mais felizes. Basta um pouco de paciência que, com o tempo, as respostas aparecem. Afinal, como diz o ditado: “quem procura, acha!”

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

 

Alma, Filosofia, Mente, Propósito

Como fazer o universo conspirar a nosso favor

27 de setembro de 2017

É popularmente conhecida a frase: “quando realmente queremos alguma coisa, o universo conspira a nosso favor”. Crenças à parte, a frase já pressupõe uma participação ativa nossa para que algo se realize, o querer. Realmente acreditamos que o que queremos é possível? O que estamos fazendo para tornar esses desejos realidade? Com essa etapa definida, ter fé que o universo vai nos ajudar é um estímulo a mais.

O universo conspira a favor do que?

Acreditar que o universo conspira a nosso favor pode nos ajudar, e muito, na concretização de objetivos. Afinal, especialistas em psicologia e neurociência afirmam que o pensamento positivo e o otimismo são muito importantes quando desejamos algo.

Porém, precisamos fazer a nossa parte. O filósofo Mário Sérgio Cortella nos alerta para a importância de sabermos identificar sonhos de delírio. “O sonho é aquilo que nos impulsiona, é um desejo que no futuro queremos buscar. O delírio carrega dentro de si a impossibilidade”, explica em vídeo disponível no YouTube.

Cortella esclarece: “sonhar tem que ter dentro de si a possibilidade de ser factível. O sonho é o desejo com factibilidade”. Como exemplo ele conta que por mais que queira ser o melhor jogador de futebol da Fifa em 2017, isso não será possível. “Eu não teria condição orgânica de fazer isso, nem se eu rezar muito, se minha mãe fizer novena, se eu ler o livro ‘O segredo’”, brinca.

‘Minha vida é feita de o universo conspirar’

O empresário Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, costuma dizer com frequência que o universo conspira a seu favor. “A minha vida é feita de o universo conspirar. Mesmo nas adversidades, parece que se abre um portal para mim e eu consigo sair da roubada. Isso é algo muito forte em minha vida”, garante.

Contudo, mesmo acreditando na força da atuação do universo sobre a vida, Tagawa passou a perceber, com o tempo, que quanto mais equilibrado ele está consigo mesmo, maior é a probabilidade de perceber essa sincronicidade com algo maior. “Quando você está equilibrado parece que acessa com mais facilidade o portal. Quando você está muito agitado, muito fora do eixo, em adversidades, você nem consegue perceber que ele existe”, afirma.

Ao estar equilibrado, você percebe um conexão com o universo em quase todos os movimentos que você faz na sua vida. “Minha intuição sobe, meu humor oscila menos e eu consigo ficar mais focado.”

Ansiedade, pressa, agitação e nervosismo eram sintomas muito comuns na vida de Tagawa, que sofreu durante muito tempo com a falta de equilíbrio. Após ser diagnosticado com uma doença e passar por uma cirurgia, ele percebeu que precisava dar um basta em hábitos que o prejudicavam. Desde então, medita, faz rituais, repete mantras e pratica atividades físicas diariamente.

Conspirar a favor é possível?

No blog Sobre Palavras, o autor Sérgio Rodrigues diz que o emprego do verbo “conspirar” com sentido positivo não está errado. “Trata-se de uma expansão semântica, com alguma dose de licença poética, em que a carga negativa da acepção mais conhecida desaparece para deixar apenas a ideia de ‘tramar em segredo’ para a obtenção de certo resultado, que tanto pode ser positivo quanto negativo”, defende.

De acordo com ele, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa diz que um dos significados de conspirar é: “conduzir ou levar a um resultado; contribuir para um fim”.