Alma, Espiritualidade

Como praticar o desapego e impedir que as coisas possuam você

28 de novembro de 2017

“O desapego não significa que você não deva possuir nada, mas sim que nada deve possuir você”, diz sábia máxima atribuída a Ali Ibn abi Talib, primo, genro e sucessor de Maomé. Apesar de Ali ter vivido por volta do ano 600 d. C, a frase reflete uma preocupação bastante atual. Muito tem se falado sobre o desprendimento de bens materiais e até mesmo de crenças e ideias que nos prejudicam. Mas como conseguir praticar o desapego?

O apego está atrelado ao sofrimento

Muitas vezes imaginamos que ser desapegado é não possuir ou não querer ter nada. Contudo, o desapego está atrelado ao sofrimento causado pela posse – e não por ter as coisas em si. Ou seja, a pessoa desapegada tem as coisas, mas não sofre demasiadamente quando deixar de tê-las.

Podemos batalhar para comprar uma casa, conquistar um emprego melhor, ter um bom relacionamento ou um carro melhor. Contudo, não podemos condicionar as nossas vidas a essas posses ou circunstâncias.

“O desapego é quando você tem as coisas, elas passam por você, você passa por elas, mas com uma certa leveza”, sugere a Monja Coen, da tradição zen budista, em vídeo disponível no YouTube. “Você pode ter. Porém, ao mesmo tempo não está aprisionado pelas coisas materiais, nem mesmo emocionais e muito menos espirituais”.

A monja nos faz refletir que estamos apegados espiritualmente quando acreditamos que nossa crença e maneira de ser é a única possível e não compreendemos nada mais além disso. “Desapego significa estar aberto a realidade à qual você está vivendo”, completa.

‘O apego nos deixa ancorados’

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, passou por uma experiência que o fez perceber o quanto o apego nos remete ao sofrimento. Ele perdeu sua avó, vítima de um assalto, num episódio muito triste em sua vida. Após a partida da avó, ele guardou a aliança dela como recordação.

Contudo, com o passar do tempo percebeu que estava apegado ao objeto, tendo a necessidade de tê-lo por perto e sempre à vista. Em determinado momento, fez um exercício de desapegar-se da aliança e, segundo ele, a sensação foi muito boa. “Fez bem. De alguma maneira ter a aliança fazia com que eu segurasse a minha avó. Aquela aliança era um apego. Era como se eu disse: ‘é meu, não mexe nisso que é da minha avó.”

Para Tagawa, o exercício com a aliança o ajudou a ser menos apegado às coisas. Com isso, o sofrimento vai embora junto, avalia, uma vez que deixamos de lado a sensação de posse, de precisar ter algo conosco. Uma vez desprendidos, ficamos livres e leves. A nossa felicidade não fica condicionada.

“Apegada é a pessoa que passa uma cola na mão, gruda uma coisa e não descola de jeito nenhum. Se eu perder isso, eu mato ou morro por isso, eu sofro”, sugere a Monja Coen.

Como não temos o controle sobre tudo o que acontece em nossas vidas, se um dia temos algo e amanhã podemos não ter mais, precisamos estar preparados para mudanças. “De repente, por inúmeras causas ou condições, você pode perder tudo. E você pode dizer: que triste, que pena. Por onde eu recomeço? E não por onde eu me mato ou por onde vou matar alguém”, diz a monja.

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