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É importante pensar sobre a morte e estar preparado para ela

1 de dezembro de 2017

A única certeza que temos na vida é a de que vamos morrer. Apesar disso, falar sobre a morte é um verdadeiro tabu na sociedade atual – principalmente nas culturas ocidentais. Pensar sobre a morte é crucial para que tenhamos uma vida madura, consciente e responsável. Se inevitavelmente morreremos um dia, precisamos estar preparados para quando isso acontecer. Pense: se morrer amanhã, o que você deixará para o mundo e seus descendentes?

Por que pensar sobre a morte?

Refletir que cedo ou tarde morreremos nos estimula a ter uma vida com mais qualidade e propósito. Afinal, quando nos lembramos que nossa passagem por esta vida tem prazo de validade, tendemos a querer fazer valer a pena nossa existência.

Em “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, obra clássica da espiritualidade e bestseller internacional, o autor Sogyal Rinpoche, monge budista, diz ter ficado surpreso quando percebeu a negação da morte no mundo ocidental. “Isso quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado por ela. Até falar da morte é considerado mórbido, e muitos acham que fazer uma simples menção a ela pode atraí-la sobre si”.

Segundo Rinpoche, são desastrosos os efeitos da negação da morte não só na esfera individual, mas para o planeta inteiro. Isso porque acabamos por não desenvolver uma visão a longo prazo. “Assim, nada as refreia [as pessoas] de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro”.

Pensar na morte é uma forma de prevenção

Na Filosofia do Bonsai pensar na morte faz parte do tema prevenção. A prática da prevenção é essencial em todos os setores da vida, tanto no que diz respeito à saúde física e mental como nas relações humanas e no ambiente profissional. O maior benefício da prevenção é que é feita com medidas simples e rotineiras, diferentemente de ações drásticas, custosas e complexas que geralmente são necessárias quando nos vemos diante de um grande problema ou doença grave.

De acordo com Alexandre Tagawa, idealizador da filosofia, pensar na morte pode até ser um assunto triste, mas importante. “Ninguém quer pensar sobre a morte mas ela faz parte da vida e é importante estar preparado para o bem dos que ficam”.

Tagawa questiona: se alguma coisa acontecer a você, os seus descendentes estarão seguros? Você tem seguro de vida, por exemplo? Quantas pendências você deixaria hoje, como dívidas ou desavenças? “É importante pensarmos nisso para não deixar nada para a próxima geração. Muitas vezes não nos damos conta de quantas pessoas dependem de nós, mas é a vida deles que vai ser impactada com a nossa morte”.

Se pensarmos em uma proporção maior ainda, tudo o que fazemos diariamente é uma forma de plantar sementes para um amanhã melhor não só para os nossos próximos, mas para a sociedade como um todo.

Ao pensarmos na vida como algo maior e parte de um todo, refletir sobre a morte é crucial. É como diz o monge Rinpoche: “Para quem se preparou e praticou, a morte não chega como uma derrota, mas como um trunfo, o coroamento da vida em seu mais glorioso instante”.

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Como praticar o desapego e impedir que as coisas possuam você

28 de novembro de 2017

“O desapego não significa que você não deva possuir nada, mas sim que nada deve possuir você”, diz sábia máxima atribuída a Ali Ibn abi Talib, primo, genro e sucessor de Maomé. Apesar de Ali ter vivido por volta do ano 600 d. C, a frase reflete uma preocupação bastante atual. Muito tem se falado sobre o desprendimento de bens materiais e até mesmo de crenças e ideias que nos prejudicam. Mas como conseguir praticar o desapego?

O apego está atrelado ao sofrimento

Muitas vezes imaginamos que ser desapegado é não possuir ou não querer ter nada. Contudo, o desapego está atrelado ao sofrimento causado pela posse – e não por ter as coisas em si. Ou seja, a pessoa desapegada tem as coisas, mas não sofre demasiadamente quando deixar de tê-las.

Podemos batalhar para comprar uma casa, conquistar um emprego melhor, ter um bom relacionamento ou um carro melhor. Contudo, não podemos condicionar as nossas vidas a essas posses ou circunstâncias.

“O desapego é quando você tem as coisas, elas passam por você, você passa por elas, mas com uma certa leveza”, sugere a Monja Coen, da tradição zen budista, em vídeo disponível no YouTube. “Você pode ter. Porém, ao mesmo tempo não está aprisionado pelas coisas materiais, nem mesmo emocionais e muito menos espirituais”.

A monja nos faz refletir que estamos apegados espiritualmente quando acreditamos que nossa crença e maneira de ser é a única possível e não compreendemos nada mais além disso. “Desapego significa estar aberto a realidade à qual você está vivendo”, completa.

‘O apego nos deixa ancorados’

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, passou por uma experiência que o fez perceber o quanto o apego nos remete ao sofrimento. Ele perdeu sua avó, vítima de um assalto, num episódio muito triste em sua vida. Após a partida da avó, ele guardou a aliança dela como recordação.

Contudo, com o passar do tempo percebeu que estava apegado ao objeto, tendo a necessidade de tê-lo por perto e sempre à vista. Em determinado momento, fez um exercício de desapegar-se da aliança e, segundo ele, a sensação foi muito boa. “Fez bem. De alguma maneira ter a aliança fazia com que eu segurasse a minha avó. Aquela aliança era um apego. Era como se eu disse: ‘é meu, não mexe nisso que é da minha avó.”

Para Tagawa, o exercício com a aliança o ajudou a ser menos apegado às coisas. Com isso, o sofrimento vai embora junto, avalia, uma vez que deixamos de lado a sensação de posse, de precisar ter algo conosco. Uma vez desprendidos, ficamos livres e leves. A nossa felicidade não fica condicionada.

“Apegada é a pessoa que passa uma cola na mão, gruda uma coisa e não descola de jeito nenhum. Se eu perder isso, eu mato ou morro por isso, eu sofro”, sugere a Monja Coen.

Como não temos o controle sobre tudo o que acontece em nossas vidas, se um dia temos algo e amanhã podemos não ter mais, precisamos estar preparados para mudanças. “De repente, por inúmeras causas ou condições, você pode perder tudo. E você pode dizer: que triste, que pena. Por onde eu recomeço? E não por onde eu me mato ou por onde vou matar alguém”, diz a monja.

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Como transformar a sensação de vazio interior na nossa principal motivação

22 de setembro de 2017

Gabriela Gasparin

Às vezes sentimos um vazio interior que faz a gente pensar que nada na vida faz sentido. Parece que há um vácuo no fundo da alma. Ficamos chateados e deprimidos. Quando essa sensação de vazio estranha aparece, a melhor forma de curá-la é buscar formas sadias de preencher o vazio. Afinal, como diz o psiquiatra Viktor Frankl: “a busca por sentido é a principal motivação da vida do homem”.

Por que temos essa sensação de vazio?

O sentimento de vazio existencial é bastante comum na atual geração. De acordo com Frankl, em seu livro “A busca de sentido”, há dois fatores para isso. Um deles é que o ser humano evoluiu e perdeu instintos animais básicos que antes asseguravam a nossa existência. Outro, um pouco mais recente, é a perda de tradições, que antes serviam de apoio para o nosso comportamento.

Sem instinto e tradições, muitos de nós ficamos perdidos, sem ter o que nos guiar. É comum buscarmos preencher esse vazio com fontes externas a nós, como comida, sexo, álcool, dinheiro, poder, status, fama e etc. Porém, como sabemos, tais comportamentos pode nos levar a vícios e acabam não preenchendo a lacuna interior, que é sentida na alma.

Além disso, a sociedade atual prega cada vez mais o individualismo. Todos nós acreditamos que somos especiais e queremos provar isso para o mundo. Não queremos sentir que estamos aqui de passagem, como diz o filósofo Mário Sérgio Cortella, em seu livro “Por que fazemos o que fazemos?”

Sanar esse sentimento geralmente exige uma busca mais profunda, menos superficial. Precisamos encontrar um propósito que nos mova, algo que nos faça sentir atuantes, sabendo que fazemos alguma diferença. “Uma vida com propósito é aquela em que sou o autor da minha própria vida. Eu não sou alguém que vou vivendo”, diz Cortella.

‘Quem procura, acha’

Dessa forma, um motivador para quando estamos sentindo esse vazio interior que parece que jamais vai embora é ir à caça do que no faz bem. “Uma vez que cada situação na vida constitui um desafio na vida da pessoa e lhe apresenta um problema para resolver, pode-se, a rigor, inverter a questão do sentido da vida. A pessoa não deveria perguntar qual é o sentido da vida, mas antes deve reconhecer que é ela que está sendo indagada”, salienta Frankl.

No livro “QS, Inteligência Espiritual”, os autores Danah Zohar e Ian Marshall, afirmam que podemos encontrar tais respostas acessando a nossa inteligência espiritual, que é a “inteligência da alma”. Ao utilizarmos o QS, criamos os próprios valores e o que nos move. “É a inteligência com a qual reconhecemos não só valores existentes, mas com a qual, criativamente, descobrimos novos valores”.

Os autores salientam que pelo uso refinado dessa inteligência, e com o emprego de honestidade pessoal e da coragem, podemos nos conectar com as fontes e os sentidos mais profundos existentes em nós. Então podemos usar essa conexão para servir causas e processos muito mais amplos do que nós mesmos. “Nossa salvação mais autêntica talvez esteja em servir nossa imaginação mais profunda.”

Como diz Frankl, cada pessoa é indagada pela vida e somente ela pode responder à vida. Sabe como? Sendo responsável pela sua própria vida.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

 

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Como alcançar as estrelas sem tirar os pés do chão

5 de setembro de 2017

Se as coisas são inatingíveis… ora!/ Não é motivo para não querê-las…/ Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas!”. O poema de Mário Quintana nos inspira a não desistirmos dos nossos sonhos, por mais distantes que pareçam estar. Afinal de contas, as coisas só acontecem quando temos a coragem de dar o primeiro passo. Contudo, na hora de estabelecermos desejos e metas é preciso ter sabedoria. Com paciência e foco é possível alcançar as estrelas sem tirar os pés do chão.

Alcançar as estrelas é possível

Alcançar as estrelas sem tirar os pés no chão significa ter consciência das dificuldades existentes na trajetória rumo à concretização de um desejo. É como diz sábia frase atribuída ao filósofo Sêneca: “a coragem conduz às estrelas, e o medo à morte.”

“Manter os pés no chão”, de acordo com o Dicionário Informal, é se manter na realidade, ou seja, viver sem ilusões, viver a vida como ela é. Dessa forma, o caminho rumo a um sonho pode ser longo e cheio de curvas e bifurcações, o que faz com que muitos desistam de prosseguir.

“Muitas vezes a gente acaba tendo crenças que são limitantes. Ou seja, a gente fica preso a coisas que impedem a gente conseguir tocar as estrelas”, acredita Alexandre Tagawa, idealizar da Filosofia do Bonsai.

Crenças limitantes são aqueles pensamentos formatados na nossa mente sobre determinado assunto que nos impedem de realizar objetivos. Um exemplo é quando afirmamos internamente para nós uma verdade sobre algo sem questionar o fundamento, por exemplo: dinheiro é sujo. “Se eu criei essa crença, como vou fazer para aceitar que o dinheiro pode ser bem vindo, bem utilizado e que necessitamos dele?”, avalia Tagawa.

Que estrela te guia?

Conhecer as próprias raízes e valores é uma forma de conseguirmos identificar quais são nossas crenças e o que realmente queremos para nós – um ponto crucial para irmos na direção desse desejo, dessa “estrela a ser buscada”.

Depois disso, é preciso ter disciplina para cuidar do corpo e da mente, que compõem o “veículo” que nos levará até o céu, rumo às constelações. De acordo com a Filosofia do Bonsai, esse cuidado está representado pelo pilar “tronco”, e inclui práticas como meditação, respirações, rituais, atividades físicas e alimentação saudável.

“Céu, terra, pé no chão e tronco erguido, é isso que te norteia. Se você não trabalhar esse meio – esse tronco – dificilmente você vai tocar as estrelas”, defende Tagawa, que confessa ter demorado a compreender a importância do equilíbrio na concretização de seus objetivos.

“Você é o seu movimento. Você é aquilo que se dispõe a fazer. Se você se dispor à ignorância, a vida vai te entregar ignorância. Se você se dispor a entender a sua existência, a vida te devolverá complexidade. Quanto mais você se aprofunda, mais complexo fica. Por isso as pessoas desistem no meio do caminho: não aguentam ir até o final. Mas se você for até o final, você pode tocar as estrelas sem tirar os pés do chão.”

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A metáfora do ‘trem da vida’: como aceitar a impermanência das coisas

22 de agosto de 2017

Acostumar-se com a chegada e partida de pessoas na nossa vida não é fácil. Nem sempre amizades duram para sempre ou continuam como eram no passado. E às vezes aqueles que conhecemos há pouco tempo se tornam muito importantes para nós. Na Filosofia do Bonsai, a metáfora do “trem da vida” nos ajuda a refletir sobre essa impermanência, aceitando as entradas e saídas dos passageiros a cada estação.

Nossa vida é como uma viagem de trem

“Nossa vida é como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques…”, diz um trecho de um texto popularmente disseminado, de autor desconhecido.

Comparar a nossa jornada com uma viagem de trem nos ajuda a entender a impermanência das relações. Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, utiliza muito dessa metáfora para si mesmo. Ela o ajuda a compreender e aceitar a chegada e partida de pessoas em sua trajetória.

“Eu sou um trem. Lá no fundo existe um arco-íris com um pote de ouro. E é o trem da vida. Eu paro em várias estações, e tem muitas pessoas que descem, outras sobem, e tem algumas pessoas que estão comigo desde que eu comecei minha jornada, e que não descem”, explica.

Tagawa acredita ser importante saber permitir que alguns desçam em determinada estação; afinal de contas, nem todos que estão no trem vão para o mesmo destino. Da mesma forma, é preciso estar atento e manter a porta aberta para que outros embarquem.

“Às vezes a gente pensa: poxa, aquela pessoa era a mais importante da minha vida naquele momento e está desembarcando? Sim, naquela passagem era, só que ela desceu e pode ser que você não encontre nunca mais essa pessoa. Deixe a pessoa descer e permita que outra pessoa suba”, avalia.

Lei da impermanência

É amplamente conhecida a Lei da Impermanência, que diz que tudo está em movimento e nada é igual ao momento seguinte. Tal conceito é comum nas sabedorias orientais. No ocidente muitas vezes somos ensinados a acreditar que as coisas duram “para sempre”, o que é uma ilusão.

“Se quer saber a verdade da vida e da morte, precisa refletir continuamente sobre isso. Há somente uma lei que nunca muda no Universo – é a de que todas as coisas mudam, todas as coisas são impermanentes”, disse Buda a uma mulher que sofria muito por ter perdido um filho recém-nascido.

O ensinamento nos auxilia tanto em partidas eternas – como a morte – como a daquelas de pessoas que estavam no mesmo trem – e às vezes até no mesmo vagão – que nós, mas precisaram descer.

“Vai acontecer. É inerente da nossa existência isso. Não é uma coisa que você controla. O que você controla são as suas escolhas. As pessoas que entraram no trem você vai escolher se quer ter uma jornada com ela ou não, curta, média ou de longo prazo. Assim como eu já desci do trem de um monte de gente”, sugere Tagawa.

É importante não nos apegarmos ao que vai embora e termos paciência de aceitar os processos transitórios da vida. “O grande mistério afinal é que nunca saberemos em qual parada iremos descer, muito menos nossos companheiros de viagem”, explica o texto amplamente disseminado.

Às vezes estamos em um vagão que fica vazio em uma estação, mas logo o trem chega na próxima e novos embarques acontecem e precisamos estar prontos para abrir a porta e permitir que a viagem prossiga para onde buscamos ir.

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Como praticar a espiritualidade, independente de religião, e mudar a forma de ver a vida

11 de agosto de 2017

Por Gabriela Gasparin

A espiritualidade é uma prática humana que não exige relação com qualquer religião e pode transformar a forma como enxergamos a vida. Ser uma pessoa espiritualizada é viver com sentido, com fé que a existência vale a pena por algo maior, transcendente e muitas vezes inexplicável. Praticar a espiritualidade pode ser muito mais simples do que se pensa: basta ser verdadeiro consigo mesmo. Trata-se de ser grato a cada dia, assumir responsabilidades sobre as próprias atitudes e tomar decisões com base em valores profundos e interiores.

O que é espiritualidade?

Elevação, transcendência e sublimidade estão entre os significados da palavra espiritualidade. Transcender, por sua vez, é “elevar-se aos limites da experiência possível” – ou seja, enxergar ou ir além do óbvio. Já o espírito é tido como “a parte imaterial do ser humano, a alma”.

Compreender cada uma dessas palavras pode nos ajudar a identificar dentro de nós o nos que estimula a prática espiritual. O filósofo Mário Sérgio Cortella explica, em vídeo na internet, que a espiritualidade é a recusa que a vida se esgote na sua materialidade, em uma existência que tem sentido em si mesma.

“Nessa direção, a ideia de espiritualidade está conectada à noção de transcendência. Isto é: as coisas, a vida, o sentido é construído para a além do imediato, do momento. É estar mergulhado em uma história que faz sentido pela própria capacidade de honrar a vida”, avalia.

Para honrar a vida, sugere, é necessário ter uma vida decente. “O que é a vida indecente? É aquela que quebra a beleza da possibilidade de existir. Eu não sou tolo e não quero sê-lo ao supor que vida é só beleza, mas a beleza não emerge, não vem à tona quando nós a obscurecemos, quando somos capazes de fazer com que os ‘apesares’ da vida sejam superiores em quantidade aos ‘por causa’.”

Como praticar a espiritualidade?

Praticar a espiritualidade pode ser dar mais valor ao que faz a existência brilhar. Mas como fazer isso? Em um podcast sobre o assunto, o historiador Mariano Azevedo avalia que espiritualidade foge ao escopo da questão da religião. “Seria muito mais um processo poderoso de introspecção, de autoconhecimento, de elevação da sua consciência com relação às coisas que estão além do seu alcance”, afirma.

Conhecer a si próprio, suas crenças, valores e propósito são ações que nos estimulam a encontrar a espiritualidade dentro de nós mesmo. A meditação, aliás, é uma prática que auxilia, e muito, nessa conexão interior – mas não só ela. Pode ser uma meditação ativa, feita ao ouvir uma música, ler um poema, dançar, cuidar das plantas, fazer atividade física ou, até mesmo – acredite – durante um trabalho: quem nunca se sentiu completamente conectado com o momento presente ao fazer algum trabalho que proporcionasse prazer?

O teólogo e filósofo Leonardo Boff sugere que a praticar a espiritualidade é um modo de ser. “É uma atitude fundamental, vivida na cotidianidade da existência: na arrumação da casa, no trabalho na fábrica, dirigindo o carro, conversando com amigos. De repente, irrompe como que um lampejo de algo mais profundo e inexplicável”, escreveu em artigo publicado em seu site. Com isso, acrescenta, as pessoa se tornam mais centradas, serenas e irradiadoras de paz.

A arte muitas vezes nos conecta a esse mundo da beleza que às vezes deixamos esquecidos dentro de nós. O filósofo Rubem Alves tem uma bela passagem sobre esse assunto: “há seres privilegiados, eles bem que poderiam ser chamados de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles veem e ouvem aquilo que nós nem vemos nem ouvimos. Aí eles transformam o que viram e ouviram em objetos belos que os homens normais podem ver e ouvir. É assim que nasce a arte.”

Ponto de Deus: a espiritualidade na Ciência

Cientistas inclusive já defendem a existência da chamada “inteligência espiritual”. A física e filósofa americana Dana Zohar aborda esse conceito no livro “QS Inteligência Espiritual”. Segundo Leonardo Boff, o livro é baseado em pesquisas que identificaram o chamado “ponto Deus no cérebro”, o que significa que essa profundidade espiritual tem base biológica.

Boff completa que pessoas que em suas vidas deram espaço significativo ao profundo, ao espiritual, revelam nos lóbulos frontais do cérebro uma excitação detectável acima do normal. Lóbulos que, por sua vez, são ligados ao sistema límbico, o centro das emoções e valores. “Aí se dá uma concentração naquilo que tais cientistas chamaram de ‘mente mística’ (mystical mind).”

Dessa forma, a estimulação do “ponto de Deus” não está ligada a uma ideia ou a algum pensamento objetivo, garante, mas “é ativado sempre e quando a pessoa se sente emotivamente envolvida com os contextos globais que conferem sentido à vida, ou quando, de forma autoimplicada, se referem ao Sagrado, a temas religiosos ou diretamente a Deus”.

Ou seja: independentemente de religião ou crença, praticar a espiritualidade tem muito mais a ver com conhecer-se com clareza, viver com propósito e enxergar a beleza nas pequenas coisas da vida. É o mesmo que ter “Deus” dentro de si – não um Deus religioso, mas uma força interior. “Este Deus interior é amor, o qual nas palavras de Dante, no final de cada livro da Divina comédia, ‘move os céus e as estrelas’, – e nós acrescentamos: e nossos próprios corações”, assegura Boff.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria

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Respirar com atenção ajuda a controlar a ansiedade

2 de agosto de 2017

Por Gabriela Gasparin

Falta de tranquilidade; respiração ofegante; sensação de aflição e batimentos cardíacos acelerados. Esses são alguns sintomas de algo que é tido por especialistas como o “mal do século”: a ansiedade. O ansioso está desconectado do momento atual, com a mente no futuro – seja esperando algo positivo ou negativo. Uma importante técnica que ajuda a controlar a ansiedade e nos traz de volta para o “aqui e agora” é a respiração.

Como a respiração controla a ansiedade

“A ansiedade é você não estar presente no presente. É você estar neste momento aqui pensando no que vai acontecer no futuro, como será e o que eu vou fazer em seguida. Então eu não estou inteiro fazendo o que estou fazendo, o meu reloginho interno está mais rápido do que o relógio vida, o tempo”, explica a Monja Coen, monja zen budista brasileira, em um vídeo sobre a ansiedade.

Prestar atenção na nossa respiração é importante para controlar a ansiedade por um motivo simples: não temos como respirar no futuro. A respiração só acontece no momento presente. Dessa forma, quando movemos nossa atenção para o ato de respirar, obrigatoriamente trazemos a nossa mente para o momento atual.

Quando a ansiedade vier, a sugestão é parar, prestar atenção na respiração e trabalhá-la. “Eu vou procurar fazer a respiração mais longa e audível para mim. Procurar perceber meu batimento cardíaco”, sugere Coen. A dica é mover os pensamentos para o instante atual. “Se eu falar: pare de ficar ansiosa, eu vou ficar mais”, afirma a monja. Depois, reflita: o que causou a ansiedade? Qual é a expectativa?

Não podemos lidar com o futuro

No livro “O Poder do Agora”, o escritor alemão Eckhart Tolle reforça que “o desconforto, a ansiedade, a tensão, o estresse, a preocupação, todas essas formas de medo são causadas por excesso de futuro e pouca presença”.

Ele salienta que tal sensação de nada nos ajudará, uma vez que “podemos sempre lidar com uma situação no momento em que ela se apresenta, mas não podemos lidar com algo que é apenas uma projeção mental. Não podemos lidar com o futuro.”

Tolle menciona, ainda, uma sábia citação de Jesus Cristo: “‘por que vocês estão sempre ansiosos?’, perguntou Jesus aos seus discípulos. ‘Será que os seus pensamentos ansiosos podem acrescentar um simples dia às vossas vidas?’”. Da mesma forma, completa o autor, Buda ensinou que a raiz do sofrimento pode ser encontrada em nossos desejos e ansiedades permanentes.

Ter pressa nos faz perder tempo

Além do mal-estar físico, ficar ansioso atrapalha na concretização de objetivos que, paradoxalmente, ansiamos por alcançar. É como diz uma sábia frase atribuída ao escritor britânico  G. K. Chesterton: “uma das grandes desvantagens de termos pressa é o tempo que isso nos faz perder.”

Em uma entrevista sobre a pressa, disponível na internet, o filósofo Mário Sérgio Cortella diz que há uma diferença entre pressa e velocidade. “Viver apressadamente não é viver velozmente. Velocidade é sinal de habilidade. Pressa, de desorganização e despreparo”, reflete.

Apressados ou ansiosos, a respiração sempre nos ajuda a encontrar nosso eixo e resgatarmos o foco para realizar o que precisa ser feito no momento presente. Ela é um indicador de como estamos internamente. Sempre que o batimento cardíaco acelerar, não se esqueça: pare por poucos segundos, inspire e expire algumas vezes e diga “olá” para o aqui e agora.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

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Ho’oponopono: o mantra havaiano que neutraliza mágoas e proporciona paz

13 de julho de 2017

“Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Sou grato.” Essas palavras compõem o mantra havaiano conhecido como Ho’oponopono, usado para a limpeza da mente em relação a sentimentos como mágoa, rancor ou raiva. De acordo com a tradição havaiana, a repetição dessa frase feita com intenção e profundidade nos ajuda a lidar melhor com problemas de relacionamento, harmonizando pensamentos negativos em relação a quem nos causa maus sentimentos.

O que é o Ho’oponopono?

O Ho’oponopono é um mantra usado para restaurar a harmonia em toda a sociedade tradicional havaiana. “Ho’o” significa “fazer, agir” e “pono” significa “certo, corretamente”. A repetição da palavra “pono” intensifica o fazer corretamente.

De acordo com a especialista em cultura havaiana Mary Kawena Pukui, a palavra Ho’oponopono pode ser traduzida literalmente como “corrigir-se por erros do passado”, ou seja, “restaurar e manter boas relações entre a família e os poderes familiares e sobrenaturais”, explica uma reportagem da revista “Hawaii Magazine”, especializada nas tradições da ilha americana.

Como fazer o Ho’oponopono?

O mantra é um processo que nos auxilia a perdoar, dentro do possível, ou aceitar as dores ou problemas causados por quem estamos conectados.

O primeiro passo é identificar dentro de si os sentimentos ruins e estressantes causados por determinadas memórias ou lembrança, atentando-se à origem de cada um deles. Uma forma de conseguir se conectar profundamente com esses sentimentos é por meio da meditação. Um exemplo é quando vem à nossa mente uma sensação de raiva, rancor ou mágoa relacionada a alguma pessoa.

Esses registros ficam na nossa mente e costumam incomodar, atrapalhando nossas vidas e nosso dia a dia. Quando eles vêm à tona, fazer o mantra Ho’oponopono nos ajuda a limpar os pensamentos, amenizando nossa raiva com relação à pessoa que nos causa tal sentimento – aliviando a dor e, em longo prazo, nos levando para o perdão – ou aceitação.

Uso diário do mantra

Em sua meditação diária, Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, reconhece os pensamentos negativos com relação a algumas pessoas ou situações – sentimentos que o atrapalharam durante anos no passado, mas que apenas com a meditação e quietude da mente ele conseguiu identificar.

Após ser apresentado ao Ho’oponopono, começou a ouvir diariamente o mantra, repetindo-o em sua mente após o processo de meditação. O mantra é feito sempre pensando na pessoa que lhe proporciona a sensação ruim. O resultado é que o incômodo passa e o dia fica muito mais harmônico e equilibrado, garante Tagawa.

Quando não fazia o mantra, as sensações negativas ficavam acumuladas dentro dele e eram descarregadas nas relações pessoais e de trabalho de forma inconsciente. Com o Ho’oponopono, ele garante que a frequência dessas descargas negativas em outras pessoas, por meio de discussões ou agressividade, tem reduzido a cada dia.

O exemplo de Tagawa revela o quanto o mantra havaiano pode nos ajudar a ter uma vida mais leve e equilibrada, o principal preceito da Filosofia do Bonsai. O Ho’oponopono visa dissolver a carga negativa de emoção e energia com relação a alguma pessoa, proporcionando paz para as nossas vidas.

Alma, Espiritualidade

Conheça a meditação ativa e diminua seu estresse em qualquer hora do dia

4 de julho de 2017

Por Gabriela Gasparin

Quando falamos em meditação, é comum vir à nossa mente a imagem de um monge de cabeça raspada sentado em posição de lótus no topo de uma montanha, não é mesmo? Apesar de a origem da prática estar relacionada a uma cena como essa, meditar está longe de exigir qualquer cenário, roupa ou postura específica. Aliás, é possível inclusive estar em estado meditativo durante as atividades do dia a dia, como dentro do ônibus ou na fila do banco, ação que pode ser chamada de meditação ativa.

O que é meditação ativa?

Primeiramente é importante saber o que é meditação, pois há várias formas de praticar e entender seu significado. Por se tratar de uma prática de origem milenar, com muitos adeptos no mundo inteiro (principalmente no Oriente), cada grupo desenvolveu técnicas próprias para meditar.

Porém, de uma forma simples e tradicional, meditar nada mais é do que o ato de ficar em silêncio, focado no presente, atento à respiração, aos sentimentos e sensações. Geralmente fica-se sentado com as pernas cruzadas, em posição de lótus ou meia lótus, com a coluna ereta e os olhos fechados (ou entreabertos).

A meditação ativa diferencia da clássica meditação na forma, mas não no objetivo. Isso porque o intuito da meditação é “acalmar” a mente, limpando os pensamentos sem se identificar com eles ou “levá-los a sério”.  Ao final, nos sentimos presentes ao momento atual, mais calmos, inteiros e relaxados, conectados com nosso interior.

A meditação ativa pode ser feita em situações diárias quando percebemos que essa conexão interior é possível. Ou seja: é aquele momento em que esvaziamos a mente das preocupações e de pensamentos sobre o futuro ou passado, focando-os no momento presente.

Nessa interpretação, a meditação ativa pode acontecer durante o café da manhã, na fila do banco, em um congestionamento, dentro do ônibus, em momentos do trabalho ou na prática de um exercício físico, por exemplo. Para isso, uma forma de se conectar com o interior é prestar atenção na respiração e no corpo – procurando uma postura adequada de acordo com a situação (sentado ou em pé, o importante é corrigir a postura, ficando inteiro no ato de estar presente).

Ação contemplativa versus contemplação ativa

Podemos entender por meditação ativa uma ação que nos eleve para um estágio de atenção e consciência. No livro “Vida Ativa”, o autor Parker Palmer avalia que contemplação e ação estão integradas na raiz. “A ação se torna algo mais do que um ir-e-vir, torna-se também um caso de contemplação, uma vereda pela qual podemos encontrar a verdade interior”, diz.

O autor sugere, de certa forma, maior consciência em todo ato que fazemos. Para ele, contemplação ativa pode ser olhar pela janela, ler um livro, meditar ou chorar uma perda dolorosa. Uma ação contemplativa, por sua vez, pode ser educar um filho, esculpir em madeira, entregar cartas, dirigir uma empresa, operar um computador, escrever um livro, cuidar de famintos, entre outros.

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, por exemplo, sente-se em meditação ativa quando faz uma atividade física que gosta muito: jogar futebol. Aos 17 anos, quando trabalhou em uma fábrica no Japão durante 12 horas por dia, também sentia-se assim, já que era operário e precisava ficar atento ao trabalho manual a ser realizado a cada instante. “Não dava tempo de pensar. É que nem quando eu estou jogando bola. Você zera a cabeça, é uma meditação ativa.”

Para quem não tem tempo ou ainda não consegue fazer a meditação tradicional, vale buscar oportunidades durante o dia para praticar a meditação ativa. São simples ações diárias que podem reduzir a ansiedade e o estresse e trazer mais paz ao dia a dia.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

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Saiba o que é a Filosofia do Bonsai e como ela pode trazer equilíbrio à sua vida

29 de maio de 2017

O principal conceito da Filosofia do Bonsai é o equilíbrio, proporcionado por meio de uma vida simplificada, enraizada e consciente. Como o próprio nome diz, sua base é o símbolo que a originou: o bonsai. A miniárvore é uma natureza moldada pelas nossas mãos. Quanto mais profunda é sua raiz, mais o tronco cresce forte e a copa fica robusta. Fazendo uma analogia com nossas vidas, devemos refletir: como as moldamos? Quais são as nossas raízes? Como cuidamos do nosso corpo? Esses princípios regem a Filosofia do Bonsai com o intuito de nos proporcionar uma vida equilibrada, com harmonia e prosperidade.

Como surgiu a Filosofia do Bonsai

Desde a adolescência, o publicitário Alexandre Tagawa, idealizador da filosofia, teve uma vida bastante desequilibrada. Enfrentava dificuldades em manter a disciplina, em lidar com a família e não conseguia entender o motivo de sua existência ou seu propósito no mundo.

Tal desequilíbrio persistiu na fase adulta e na vida profissional, a ponto de Tagawa ter o costume de comparar sua vida com a trajetória da lendária ave Fênix, que renasceu das cinzas: “minha vida inteira foi assim. Eu oscilava demais. Eram altos e baixos constantes e eu não conseguia gerar uma visão futura. Eu não olhava pra dentro de mim, só olhava pra fora. Tudo isso fez com que eu ficasse um caos.”

Em 2008, com a crise econômica mundial, ele vivia novamente um desses momentos de crise e desequilíbrio quando recebeu o símbolo do bonsai de presente de sua equipe — que na época sugeriu o bonsai como marca de sua empresa. Foi a partir daí que Tagawa começou a viver uma grande transformação em sua jornada.

Aprendeu o quanto as miniárvores precisam de cuidados diários para crescerem saudáveis e robustas. Passou a fazer analogias do bonsai com a própria vida. Resgatou aprendizados orientais que, apesar de esquecidos, encontravam-se em suas próprias raízes, como ensinamentos da avó budista e a experiência de viver no Japão, ao final da adolescência.

Assim, Tagawa começou a cuidar mais do corpo, fazer meditação e rituais diários e buscou o autoconhecimento — sempre com muita paciência e, claro, enfrentando todos os percalços desse processo. Quando percebeu, tinha desenvolvido uma filosofia que o ajudava a manter o equilíbrio que tanto precisava. E assim nasceu a filosofia do Bonsai, que nada mais é do que a junção de todas essas práticas em simples ações diárias com o intuito de mantê-lo no foco e, consequentemente, viver melhor.

“Como que queremos que o nosso bonsai tenha longevidade, prosperidade, que ele cresça? Na hora que eu consegui entender isso, eu comecei a buscar práticas dentro da filosofia para que eu conseguisse essa vida com mais equilíbrio.”

O que é a Filosofia do Bonsai

Nessa filosofia, somos instigados a trabalhar três pilares inspirados no bonsai: a raiz, o tronco e a copa. No primeiro pilar está nossa base, que é a família, os antepassados e nossas crenças. No tronco encontra-se o trabalho intelectual e físico para manter tudo em equilíbrio, como alimentação, atividades físicas, meditação e desenvolvimento pessoal. A copa, de uma forma resumida, é o resultado: a prosperidade — mas até aqui precisamos saber que há fases de altos e baixos, tendo em vista que até as árvores precisam trocar as folhas e se renovar periodicamente.

Tagawa é consciente de que, a cada dia, novos desafios aparecem. E é por isso que cada vez mais ele busca a disciplina para seguir os preceitos da filosofia. “O bonsai é único como cada ser humano, que também deve ser tratado com suas particularidades. Cada um de nós, como cada bonsai, é moldado pelas nossas mãos. Nós precisamos entender como podemos moldar o nosso bonsai e quem que está moldando a nossa vida. A  partir do momento que a gente tem o entendimento disso, nós começamos a organizar o nosso futuro”, defende.