Por Gabriela Gasparin
“É por meio de nossas próprias narrativas que construímos principalmente uma versão de nós mesmos no mundo”. A frase, do psicólogo americano Jerome Bruner, ressalta o quanto conhecer a própria história nos faz entender quem somos. Ao escrever uma autobiografia, revivemos por meio da memória cada etapa da vida, ressignificando-as. Ao estruturar o passado, encontramos a clareza que precisamos para construir no presente o futuro que queremos ter. É como se estivéssemos passando a vida a limpo.
É justamente essa percepção que Alexandre Tagawa tem ao escrever a história da própria vida e de como surgiu a Filosofia do Bonsai. “Escrever o livro está me ajudando a entender a minha história. É como uma terapia, porque faz você refletir sobre todas as etapas que passou na vida.”
A escrita da autobiografia o ajuda a estruturar o entendimento sobre quem é e qual é sua missão no mundo. “É claro que todos nós passamos por adversidades e entendemos o que fez ou não sentido. Estou conseguindo entender onde estão os pontos que posso melhorar, onde que aquilo pode fazer a diferença. Muitas vezes nem nós mesmos entendemos a nossa história. O processo da escrita e das entrevistas está me facilitando a ter um pensamento mais profundo.”
Realização de um sonho
O sonho de Tagawa de escrever um livro sobre sua trajetória e a Filosofia do Bonsai é antigo, mas foi em 2017 que ele resolveu, literalmente, colocá-lo no papel.
Foram as dificuldades que viveu desde a infância que o levaram a buscar práticas para manter a calma e o equilíbrio em momentos difíceis. As práticas diárias de meditação, respiração, atividade física e cuidados com a alimentação o ajudam a viver melhor, com foco na sua missão. A intenção com o livro é compartilhar esse aprendizado com os leitores. Assim como a filosofia faz bem para ele, pode ajudar outras pessoas.
O processo pelo qual Tagawa está passando, de compreender a própria história por meio da escrita, faz parte de um processo já conhecido por estudiosos. O psicólogo Bruner, citado no começo deste texto, sugere que representamos a vida, para nós e para os outros, na forma de narrativas. Ao nos identificarmos com essa história é que construímos nossa identidade e achamos nosso lugar no mundo.
O sociólogo Antonio Candido, em seu livro Vários Escritos, explica que “quer percebamos claramente ou não, o caráter de coisa organizada da obra literária torna-se um fator que nos deixa mais capazes de ordenar a nossa própria mente e sofrimentos; e, em consequência, mais capazes de organizar a visão que temos do mundo”.
É por isso que, para Tagawa, contar a própria história o ajuda a manter o compromisso com a prática da Filosofia do Bonsai, que é um ponto para dar um norte ao seu equilíbrio, com uma vida sem excesso.
“Quando eu vou contando a minha história e vendo os processos que fui passando durante minha infância, adolescência e fase adulta, eu começo a entender que hoje, se eu não tivesse a Filosofia do Bonsai, seria mais difícil o processo de aceitação das coisas que eu passei pela minha vida, e principalmente o entendimento de como posso manter a vida com mais equilíbrio.”
Tagawa faz uma analogia de conhecermos nossas histórias com o próprio bonsai, que tem uma raiz profunda, que é onde está a nossa família e nossos antepassados. É onde a gente nos nutre de vitaminas para que nosso tronco fique erguido e nossa copa se transforme em prosperidade. “É uma natureza moldada por nossas mãos, assim como a nossa vida. Cada ser humano é único, assim como cada bonsai”, explica.
Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.