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Autodesenvolvimento, Mente

Julgar e falar mal dos outros só prejudica a nós mesmos

4 de dezembro de 2017

Por Gabriela Gasparin

“O bom julgador por si se julga”, já diz o provérbio português. Todos sabemos que julgar é fácil, afinal, é uma forma de ressaltar defeitos alheios e evitar olhar para os nossos. Porém, tal prática só nos prejudica, pois reforça nossas fraquezas e nos impede de crescer e evoluir – fora o tempo que gastamos pensando na vida dos outros em vez de usá-lo para melhorar a nossa.

Por que julgar os outros faz mal?

Existe uma frase atribuída a Freud, criador da psicanálise, que diz: “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”. Isso significa que falamos mal dos outros tendo como base nossas próprias crenças e pontos de vista. Afinal, se tal comportamento não nos dissesse respeito ou não revelasse algo sobre nós, não nos incomodaria.

“Se aquilo não tivesse nada a ver com as minhas dificuldades, não incomodaria, eu nem perceberia”, diz a psicoterapeuta cognitivista-comportamental Betania Marques Dutra, em reportagem publicada no Portal UOL.

De acordo com a Monja Coen, da tradição zen budista, o que nós fazemos, falamos e pensamos mexe na trama da existência. Segundo ela o karma, um dos conceitos budistas, significa que aquilo que fazemos de forma repetitiva vai causar tendências em nossa vida – o que acontece com nossos julgamentos e pensamentos.

Prendemos as pessoas em caixas fixas quando as julgamos, diz a Monja em vídeo disponível no YouTube. “A gente coloca as pessoas dentro de caixinhas: ‘aquela pessoa não presta, não gosto dela, ela é burra e estúpida’. E toda vez que vejo a pessoa, penso: ela é burra e estúpida. Eu não dou a oportunidade de pensar além da caixinha, eu a tranco lá dentro, a humilho (…) Isso é um vício, um karma que faz mal para a própria pessoa que assim sente.”

Julgar os outros nos faz mal porque, além de cultivarmos rancor, significa que temos uma visão congelada da realidade. Não percebemos que há a possibilidade de mudança, de crescimento e que nada é totalmente fixo. “As pessoas não são boas o tempo todo, nem más o tempo todo, nem burras o tempo todo, nem geniais o tempo todo”, ressalta a monja.

Meditar nos ajuda a julgar menos

O autoconhecimento é ação importante para quem deseja evoluir e julgar menos os demais. Quando nos conhecemos conseguimos identificar os próprios defeitos, o que nos dá a possibilidade de atuar sobre eles.

A meditação é importante ferramenta para isso. Por meio da prática conseguimos observar nossos hábitos de pensamentos, o que nos permite conhecer melhor quem somos. Que pensamentos temos que constroem a nossa realidade? O quanto eles moldam o que fazemos ou construímos? É isso que devemos avaliar diariamente.

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai garante que quanto mais ele faz as práticas propostas pela filosofia, como meditação e exercícios de respiração, mais ele tem controle sobre as próprias atitudes, o que o faz julgar menos. “A maioria dos problemas que passam pela nossa cabeça não acontecem. Nosso maior vilão somos nós mesmo. A gente tem mais pensamento ruim do que bom. A grande diferença é você conseguir ter mais pensamento bom do que ruim no dia”, avalia.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

Alma, Espiritualidade

É importante pensar sobre a morte e estar preparado para ela

1 de dezembro de 2017

A única certeza que temos na vida é a de que vamos morrer. Apesar disso, falar sobre a morte é um verdadeiro tabu na sociedade atual – principalmente nas culturas ocidentais. Pensar sobre a morte é crucial para que tenhamos uma vida madura, consciente e responsável. Se inevitavelmente morreremos um dia, precisamos estar preparados para quando isso acontecer. Pense: se morrer amanhã, o que você deixará para o mundo e seus descendentes?

Por que pensar sobre a morte?

Refletir que cedo ou tarde morreremos nos estimula a ter uma vida com mais qualidade e propósito. Afinal, quando nos lembramos que nossa passagem por esta vida tem prazo de validade, tendemos a querer fazer valer a pena nossa existência.

Em “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, obra clássica da espiritualidade e bestseller internacional, o autor Sogyal Rinpoche, monge budista, diz ter ficado surpreso quando percebeu a negação da morte no mundo ocidental. “Isso quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado por ela. Até falar da morte é considerado mórbido, e muitos acham que fazer uma simples menção a ela pode atraí-la sobre si”.

Segundo Rinpoche, são desastrosos os efeitos da negação da morte não só na esfera individual, mas para o planeta inteiro. Isso porque acabamos por não desenvolver uma visão a longo prazo. “Assim, nada as refreia [as pessoas] de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro”.

Pensar na morte é uma forma de prevenção

Na Filosofia do Bonsai pensar na morte faz parte do tema prevenção. A prática da prevenção é essencial em todos os setores da vida, tanto no que diz respeito à saúde física e mental como nas relações humanas e no ambiente profissional. O maior benefício da prevenção é que é feita com medidas simples e rotineiras, diferentemente de ações drásticas, custosas e complexas que geralmente são necessárias quando nos vemos diante de um grande problema ou doença grave.

De acordo com Alexandre Tagawa, idealizador da filosofia, pensar na morte pode até ser um assunto triste, mas importante. “Ninguém quer pensar sobre a morte mas ela faz parte da vida e é importante estar preparado para o bem dos que ficam”.

Tagawa questiona: se alguma coisa acontecer a você, os seus descendentes estarão seguros? Você tem seguro de vida, por exemplo? Quantas pendências você deixaria hoje, como dívidas ou desavenças? “É importante pensarmos nisso para não deixar nada para a próxima geração. Muitas vezes não nos damos conta de quantas pessoas dependem de nós, mas é a vida deles que vai ser impactada com a nossa morte”.

Se pensarmos em uma proporção maior ainda, tudo o que fazemos diariamente é uma forma de plantar sementes para um amanhã melhor não só para os nossos próximos, mas para a sociedade como um todo.

Ao pensarmos na vida como algo maior e parte de um todo, refletir sobre a morte é crucial. É como diz o monge Rinpoche: “Para quem se preparou e praticou, a morte não chega como uma derrota, mas como um trunfo, o coroamento da vida em seu mais glorioso instante”.

Alma, Meditação

Aprenda com a história do ‘homem mais feliz do mundo’

29 de novembro de 2017

Inúmeras pesquisas já comprovaram os benefícios da meditação para o cérebro. Em uma delas, o monge budista Matthieu Ricard foi considerado o “homem mais feliz do mundo”. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, identificaram nele a produção sem precedente de ondas cerebrais ligadas à capacidade de atenção, consciência, aprendizado e memória, além de uma redução da propensão à negatividade.

A história do ‘homem mais feliz do mundo’

Matthieu é um ex-cientista francês de 71 anos que abdicou da carreira como pesquisador para se tornar monge. Ele tinha 26 anos quando, após obter um Ph.D. em genética molecular no Instituto Pasteur, decidiu se concentrar na prática do Budismo Tibetano. Desde então, há mais de 50 anos estuda com grandes mestres da tradição e é tradutor de Dalai Lama para o francês.

As pesquisas no cérebro do monge foram iniciadas em 2008, na Universidade de Wisconsin. O neurocientista Richard Davidson conectou sensores no cérebro de Matthieu e, usando técnicas de ressonância magnética funcional, conseguiu demonstrar que alterações positivas significativas no comportamento cerebral podem ser ativadas através da meditação e outras “práticas contemplativas”.

Os resultados mostraram atividade elevada no segmento esquerdo do córtex pré-frontal do cérebro, se comparado ao direito. Quando o monge meditou, o cérebro dele produziu níveis de ondas gama ligadas à consciência, atenção, aprendizado e memória que nunca haviam sido relatados em estudos da neurociência. Além disso, foi comprovado que, por conta da meditação, ele tem capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade.

Dicas do monge para ser feliz

“Felicidade não é a busca infinita por uma série de experiências prazerosas. Isso é uma receita para a exaustão”, diz o monge tibetano, de acordo com artigo publicado no site britânico BBC. De acordo com Matthieu, “felicidade é um jeito de ser. É um estado mental ótimo, excepcionalmente saudável, que dá a você os recursos para lidar com os altos e baixos da vida.”

O monge dá cinco dicas para ser feliz, que estão disponíveis em vídeo no YouTube produzido pela GQ magazine:

  1. Não se preocupe com o que não tem solução: se há como resolver o problema, resolva. Caso não, relaxe e procure outras coisas para fazer.
  2. Felicidade exige treino: há muitas coisas boas a serem usufruídas na vida, como amor, atenção, liberdade e paz, mas elas não surgem do dia para a noite – precisam ser treinadas. É como aprender a tocar piano: não podemos fazer isso do dia para a noite, exige dedicação.
  3. Encontre sua paixão: saber o que te faz feliz é algo que você realmente deve perguntar a si mesmo. O que realmente importa para você? É como acender uma chama. Você tem que encontrar qual é a sua e fazer o que for necessário para alcançá-la.
  4. Felicidade para todos: o que faz mal para os outros não pode fazer bem para nós. Faça o seu melhor para praticar a compaixão. Procure se livrar de sentimentos ruins contra si e os outros e busque formas de compartilhar isso com os demais.
  5. Sirva: esteja a serviço da vida.

Ele faz isso compartilhando seus aprendizados como monge. Como você pode servir ao mundo?

Alma, Espiritualidade

A metáfora do ‘trem da vida’: como aceitar a impermanência das coisas

22 de agosto de 2017

Acostumar-se com a chegada e partida de pessoas na nossa vida não é fácil. Nem sempre amizades duram para sempre ou continuam como eram no passado. E às vezes aqueles que conhecemos há pouco tempo se tornam muito importantes para nós. Na Filosofia do Bonsai, a metáfora do “trem da vida” nos ajuda a refletir sobre essa impermanência, aceitando as entradas e saídas dos passageiros a cada estação.

Nossa vida é como uma viagem de trem

“Nossa vida é como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques…”, diz um trecho de um texto popularmente disseminado, de autor desconhecido.

Comparar a nossa jornada com uma viagem de trem nos ajuda a entender a impermanência das relações. Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, utiliza muito dessa metáfora para si mesmo. Ela o ajuda a compreender e aceitar a chegada e partida de pessoas em sua trajetória.

“Eu sou um trem. Lá no fundo existe um arco-íris com um pote de ouro. E é o trem da vida. Eu paro em várias estações, e tem muitas pessoas que descem, outras sobem, e tem algumas pessoas que estão comigo desde que eu comecei minha jornada, e que não descem”, explica.

Tagawa acredita ser importante saber permitir que alguns desçam em determinada estação; afinal de contas, nem todos que estão no trem vão para o mesmo destino. Da mesma forma, é preciso estar atento e manter a porta aberta para que outros embarquem.

“Às vezes a gente pensa: poxa, aquela pessoa era a mais importante da minha vida naquele momento e está desembarcando? Sim, naquela passagem era, só que ela desceu e pode ser que você não encontre nunca mais essa pessoa. Deixe a pessoa descer e permita que outra pessoa suba”, avalia.

Lei da impermanência

É amplamente conhecida a Lei da Impermanência, que diz que tudo está em movimento e nada é igual ao momento seguinte. Tal conceito é comum nas sabedorias orientais. No ocidente muitas vezes somos ensinados a acreditar que as coisas duram “para sempre”, o que é uma ilusão.

“Se quer saber a verdade da vida e da morte, precisa refletir continuamente sobre isso. Há somente uma lei que nunca muda no Universo – é a de que todas as coisas mudam, todas as coisas são impermanentes”, disse Buda a uma mulher que sofria muito por ter perdido um filho recém-nascido.

O ensinamento nos auxilia tanto em partidas eternas – como a morte – como a daquelas de pessoas que estavam no mesmo trem – e às vezes até no mesmo vagão – que nós, mas precisaram descer.

“Vai acontecer. É inerente da nossa existência isso. Não é uma coisa que você controla. O que você controla são as suas escolhas. As pessoas que entraram no trem você vai escolher se quer ter uma jornada com ela ou não, curta, média ou de longo prazo. Assim como eu já desci do trem de um monte de gente”, sugere Tagawa.

É importante não nos apegarmos ao que vai embora e termos paciência de aceitar os processos transitórios da vida. “O grande mistério afinal é que nunca saberemos em qual parada iremos descer, muito menos nossos companheiros de viagem”, explica o texto amplamente disseminado.

Às vezes estamos em um vagão que fica vazio em uma estação, mas logo o trem chega na próxima e novos embarques acontecem e precisamos estar prontos para abrir a porta e permitir que a viagem prossiga para onde buscamos ir.

Filosofia, Mente

‘Toda grande caminhada começa com um simples passo’, disse Buda

4 de agosto de 2017

“Toda grande caminhada começa com um simples passo”. Atribuída a Buda, essa frase é um estímulo e tanto a ser lembrado toda vez que formos começar uma mudança, da mais simples à mais complexa. Pode ser trocar de emprego, fazer novas amizades, morar fora ou mudar radicalmente de vida. Seja lá qual for seu desejo, lembre-se: para o sonho ser concretizado é indispensável dar o primeiro passo.

O que nos impede de dar o primeiro passo

Começar uma mudança sempre parece ser mais difícil do que dar continuidade a algo que já foi iniciado. É por isso que o poeta da Roma antiga Horácio disse: “quem começa uma coisa já tem metade feita”.

Fatores como preguiça, insegurança, medo e ansiedade são características paralisantes que nos impedem de realizar sonhos e atingir objetivos. Eles precisam ser combatidos quando percebemos que estamos procrastinando na hora de colocar um plano em prática.

Perguntas que podem ser feitas são: por que estou tão inseguro para tomar tal atitude? O que temo? Por que tenho tanta preguiça de começar a me exercitar? Por que estou com medo de mudar de emprego? Por meio do autoconhecimento encontramos as respostas dentro de nós mesmos, e isso nos ajuda a entender o que está nos impedindo de caminhar.

Começar é mais simples do que parece

Outra ação importante é ter consciência de que o primeiro passo geralmente é mais simples do que se imagina. É comum ficarmos ansiosos quando olhamos apenas para o objetivo final, para o resultado esperado lá na frente. A ansiedade nos atrapalha a focar nas ações práticas que precisam ser tomadas, cada uma a seu tempo, para atingir o desejo final.

Toda meta tem uma primeira ação, algo imprescindível para que ela seja concretizada. Se o objetivo é mudar de emprego, é preciso fazer um plano de ação e pensar: que medida devo tomar diariamente para atingir essa meta, e dentro de quanto tempo? Você provavelmente terá de se planejar para se candidatar a vagas ou entrar em contato com empresas. O primeiro passo pode ser enviar um e-mail por dia para cada empresa onde pretende trabalhar, o que não é tão difícil assim.

O mesmo vale para qualquer sonho: pesquisar o que é preciso fazer para realizá-lo é indispensável para chegar ao objetivo.

Disciplina para alcançar objetivos

Estar em equilíbrio com o corpo e a mente também nos ajuda a ter foco para realizar objetivos. Muitas medidas propostas na Filosofia do Bonsai para se ter uma vida equilibrada, por exemplo, exigem disciplina.

Alimentar-se bem, fazer atividades físicas com frequência, cuidar da mente por meio de meditação, rituais ou respiração são práticas que proporcionam bem-estar e maior qualidade de vida. Contudo, para sentir os resultados positivos é preciso começar.

Dar o primeiro passo não significa fazer uma mudança radical de um dia para outro, alcançar o objetivo amanhã. Quando paramos para olhar nas ações possíveis para serem feitas a cada dia, as limitações desaparecem. Há um poema Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, que diz: “na véspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas, nem que fazer planos em papel”.

Se formos pensar assim, jamais partiremos e viveremos na véspera de concretizar nossos sonhos. Que tal fazer o tão esperado amanhã chegar, começando por hoje?

Alma, Propósito

Desacelere: por que a vida agitada nos torna escravos de nós mesmos

31 de julho de 2017

Por Gabriela Gasparin

Você já se pegou sendo pressionado por si mesmo para fazer mais do que faz rotineiramente, para render mais, realizar-se mais, “ser” além do que é? Ou às vezes, mesmo sem ser intencional, compara sua vida com a de outras pessoas (seja pelo Facebook ou na vida real), avaliando quem é mais “interessante”, mais descolado e bem realizado?

A cobrança para agir mais e ser autêntico é frequente nos dias de hoje. Somos pressionados por ter sucesso, “fazer e acontecer”. O resultado é que, com tantas expectativas, é fácil ficarmos perdidos ou decepcionados com nós mesmos. E o mais curioso, buscamos não só a aprovação dos outros, como a nossa própria, e nos frustramos com as expectativas que criamos, ficando escravos desse ciclo.

Por que ficamos escravos de nós mesmos?

Com tanta cobrança, interna e externa, muitos de nós ficamos cansados de buscarmos sermos melhores, mais produtivos, alcançarmos o sucesso – seja lá o que isso signifique. No livro “Sociedade do Cansaço”, o filósofo Byung-Chul Han diz que a sociedade ativa moderna vive em estado de “histeria e nervosismo”, situação acarretada por uma autocobrança e necessidade de produzir mais e melhor constantemente.

De acordo com o autor, esse estado causa esgotamento e depressão nos indivíduos. Não somos mais cobrados por fatores externos, como um patrão ou a escala de trabalho da empresa. A cobrança atual, diz, vem de nós próprios, em uma era onde somos “soberanos de nós mesmos”.

Descoberta de um propósito

Esse cidadão dono de si, empreendedor e protagonista cobra-se avidamente para descobrir “quem ele é”, seu propósito, e o que ele nasceu para fazer na vida com muita rapidez. Contudo, essa descoberta não acontece de um dia para o outro, como os tempos atuais nos pressionam. Pelo contrário: leva tempo, dedicação e exige verdadeira busca.

Como resultado, avalia o autor, temos uma liberdade paradoxal, pois ficamos presos à nossa própria autocobrança por “acontecer” e pelo esforço de termos de ser nós mesmos, de descobrirmos quem somos e para que viemos ao mundo. “O autor é ao mesmo tempo explorador e explorado”, avalia.

Insatisfação que nos deixa exaustos

Em reflexão parecida, no livro “Por que fazemos o que fazemos” o filósofo Mario Sérgio Cortella avalia que existe um tipo de insatisfação que é positiva, aquela que nos move a querer mais e melhor. Mas há também uma insatisfação negativa: que é aquela que nos consome tanto que nos deixa exaustos. “Se você passa o tempo todo em estado de sofreguidão, em busca de algo – mesmo que já tenha, quer sempre um patamar acima – sem que haja possibilidade de agregar aquilo como uso e fruição, qual o sentido?”, questiona.

No livro “Vida ativa”, de Parker J. Palmer, o autor avalia que muitas vezes nossa ação, na verdade, é uma reação – ou seja, agimos por impulso, sem saber exatamente o motivo ou o fruto que queremos colher de tal ato. Ele diz: “esse ‘fazer’ não brota de corações livres e independentes, mas depende de provação externa. Não provém de nossa percepção do que somos e do que queremos fazer, mas da ansiosa leitura de como os outros nos definem e daquilo que o mundo exige.”

A importância do tempo para a contemplação

Vivemos em uma sociedade do desempenho, da produtividade, e ficamos esgotados sem tempo para a reflexão ou para a meditação. Byung-Chul Han sugere que a exaustão ocorre porque não temos espaço para a lacuna, para a contemplação.

Por contemplação entende-se aquele momento de passividade consciente – ou até mesmo atividade passiva, explica Palmer.  É ter momentos contemplativos para mudar nossa consciência sobre como de fato agir. É sabermos o motivo da ação, o porquê a fazemos.

“A função da contemplação em todas as suas formas é penetrar a ilusão e auxiliar-nos a contatar a realidade”, diz o autor. Pode ser a tradicional meditação, mas também o exercício de uma tarefa como ler um livro, limpar a casa ou cuidar de um filho – desde que a pessoa esteja com o pensamento tranquilo.

Byung-Chul Han diz que há um lado ativo do não-fazer. “Na meditação zen, por exemplo, tenta-se alcançar a negatividade do não-para, isto é, o vazio, libertando-se de tudo que aflige e se impõe.”

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

Alma, Espiritualidade

Conheça a meditação ativa e diminua seu estresse em qualquer hora do dia

4 de julho de 2017

Por Gabriela Gasparin

Quando falamos em meditação, é comum vir à nossa mente a imagem de um monge de cabeça raspada sentado em posição de lótus no topo de uma montanha, não é mesmo? Apesar de a origem da prática estar relacionada a uma cena como essa, meditar está longe de exigir qualquer cenário, roupa ou postura específica. Aliás, é possível inclusive estar em estado meditativo durante as atividades do dia a dia, como dentro do ônibus ou na fila do banco, ação que pode ser chamada de meditação ativa.

O que é meditação ativa?

Primeiramente é importante saber o que é meditação, pois há várias formas de praticar e entender seu significado. Por se tratar de uma prática de origem milenar, com muitos adeptos no mundo inteiro (principalmente no Oriente), cada grupo desenvolveu técnicas próprias para meditar.

Porém, de uma forma simples e tradicional, meditar nada mais é do que o ato de ficar em silêncio, focado no presente, atento à respiração, aos sentimentos e sensações. Geralmente fica-se sentado com as pernas cruzadas, em posição de lótus ou meia lótus, com a coluna ereta e os olhos fechados (ou entreabertos).

A meditação ativa diferencia da clássica meditação na forma, mas não no objetivo. Isso porque o intuito da meditação é “acalmar” a mente, limpando os pensamentos sem se identificar com eles ou “levá-los a sério”.  Ao final, nos sentimos presentes ao momento atual, mais calmos, inteiros e relaxados, conectados com nosso interior.

A meditação ativa pode ser feita em situações diárias quando percebemos que essa conexão interior é possível. Ou seja: é aquele momento em que esvaziamos a mente das preocupações e de pensamentos sobre o futuro ou passado, focando-os no momento presente.

Nessa interpretação, a meditação ativa pode acontecer durante o café da manhã, na fila do banco, em um congestionamento, dentro do ônibus, em momentos do trabalho ou na prática de um exercício físico, por exemplo. Para isso, uma forma de se conectar com o interior é prestar atenção na respiração e no corpo – procurando uma postura adequada de acordo com a situação (sentado ou em pé, o importante é corrigir a postura, ficando inteiro no ato de estar presente).

Ação contemplativa versus contemplação ativa

Podemos entender por meditação ativa uma ação que nos eleve para um estágio de atenção e consciência. No livro “Vida Ativa”, o autor Parker Palmer avalia que contemplação e ação estão integradas na raiz. “A ação se torna algo mais do que um ir-e-vir, torna-se também um caso de contemplação, uma vereda pela qual podemos encontrar a verdade interior”, diz.

O autor sugere, de certa forma, maior consciência em todo ato que fazemos. Para ele, contemplação ativa pode ser olhar pela janela, ler um livro, meditar ou chorar uma perda dolorosa. Uma ação contemplativa, por sua vez, pode ser educar um filho, esculpir em madeira, entregar cartas, dirigir uma empresa, operar um computador, escrever um livro, cuidar de famintos, entre outros.

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, por exemplo, sente-se em meditação ativa quando faz uma atividade física que gosta muito: jogar futebol. Aos 17 anos, quando trabalhou em uma fábrica no Japão durante 12 horas por dia, também sentia-se assim, já que era operário e precisava ficar atento ao trabalho manual a ser realizado a cada instante. “Não dava tempo de pensar. É que nem quando eu estou jogando bola. Você zera a cabeça, é uma meditação ativa.”

Para quem não tem tempo ou ainda não consegue fazer a meditação tradicional, vale buscar oportunidades durante o dia para praticar a meditação ativa. São simples ações diárias que podem reduzir a ansiedade e o estresse e trazer mais paz ao dia a dia.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.

Meditação, Mente

Como começar a meditar, limpar os pensamentos e ter foco nas atividades do dia

19 de junho de 2017

Por Gabriela Gasparin

“A alma não quer ir para a frente. Quem quer ir para a frente é porque ainda não encontrou. Está ainda à procura”. A frase do escritor brasileiro Rubem Alves traduz o sentimento que atinge muitos de nós nos dias atuais: a ansiedade. Ficamos ansiosos porque não nos atentamos ao momento presente. Passamos a maior parte do tempo pensando no futuro. A meditação é uma prática que nos ajuda encontrar isso que, segundo Rubem Alves, “procuramos”. Ela nos traz para o aqui e agora, limpa os pensamentos e nos ajuda a ter foco. Mas como começar a meditar?

 

Meditação: o ato de limpar os pensamentos

Talvez o primeiro passo seja entender o que é meditação. De uma forma simples, meditar nada mais é do que o ato de ficar em silêncio, focado no presente, atento à respiração, aos sentimentos e sensações.

Há uma equivocada ideia disseminada popularmente de que meditar é “não pensar em nada”. Porém, tal definição é incorreta. É impossível não pensar em nada. O que é feito durante a meditação é observar os pensamentos chegando e indo embora, sem se fixar neles. Uma dica da monja zen budista brasileira conhecida como Monja Coen é: “não pense o pensamento”.

A posição mais comum é ficar sentado sobre uma almofada no chão, com as pernas cruzadas e a coluna ereta. Praticantes assíduos sentam-se com a perna em posição de “lótus” ou “meia lótus”. Mas quem não conseguir ou se sentir desconfortável pode se sentar em uma cadeira ou banquinho – sempre com a coluna reta.

A prática independe de religião ou tradição espiritual – apesar de às vezes pensarmos que possa estar ligada à crenças orientais. “Meditar serve para todo mundo. Não tem nada a ver com Oriente e Ocidente (…). É uma capacidade da mente humana que foi pouco desenvolvida e agora a gente está redescobrindo”, afirma a Monja Coen em vídeo em sua página. De acordo com ela, ao meditar limpamos os nossos excessos. “É tirar o extra e ver a essência do seu ser.”

 

Que tipo de meditação seguir?

Existem várias formas de praticar a meditação, desde as tradicionais voltadas ao budismo (zen ou tibetano), yoga ou hinduísmo, até as mais contemporâneas, como o Mindfulness. Recomenda-se fechar os olhos (ou deixá-los entreabertos), ouvir uma música relaxante ao fundo e prestar atenção na inspiração e expiração. Há a possibilidade de fazer uma meditação guiada – com a voz de um mediador ao fundo, que pode ser encontrada na internet – ou simplesmente ficar em silêncio.

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, pratica a meditação do budismo tibetano – que foi com a qual ele teve contato na fase adulta. Quando criança, contudo, cresceu vendo sua avó praticar rituais do budismo japonês, o que também incluía a meditação. Segundo ele, a prática diária o ajuda a eliminar todos os pensamentos desnecessários, restando apenas os que são importantes para o dia. “É como se eu estivesse nascendo e morrendo a cada respiração. Inspira: nasci. Expira: morri. E sobra só o que é mais importante, o que preciso focar no meu dia.”

Em sua meditação ele ainda mentaliza uma luz branca ou azul cintilantes vindas de cima e atingindo o topo de sua cabeça, de forma a protegê-lo e fortalecer suas energias para o restante do dia.

 

Tempo de prática

É recomendável meditar por aproximadamente 20 minutos ao dia, o suficiente para acalmar a mente, reduzir a ansiedade e nos ajudar a nos conectarmos com nós mesmos. Com o passar do tempo, começamos a observar os nossos pensamentos “de fora”, eliminando o que não é importante.

Meditar pode ser um pouco desconfortável no começo e a prática exige disciplina. Contudo, vale a pena insistir e vencer os desconfortos iniciais. Uma hora os benefícios chegam e, fazendo referência à frase de Rubem Alves que abre este texto, conseguimos encontrar o que tanto procuramos dentro de nós mesmo.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.