Alma, Espiritualidade

Como praticar a espiritualidade, independente de religião, e mudar a forma de ver a vida

11 de agosto de 2017

Por Gabriela Gasparin

A espiritualidade é uma prática humana que não exige relação com qualquer religião e pode transformar a forma como enxergamos a vida. Ser uma pessoa espiritualizada é viver com sentido, com fé que a existência vale a pena por algo maior, transcendente e muitas vezes inexplicável. Praticar a espiritualidade pode ser muito mais simples do que se pensa: basta ser verdadeiro consigo mesmo. Trata-se de ser grato a cada dia, assumir responsabilidades sobre as próprias atitudes e tomar decisões com base em valores profundos e interiores.

O que é espiritualidade?

Elevação, transcendência e sublimidade estão entre os significados da palavra espiritualidade. Transcender, por sua vez, é “elevar-se aos limites da experiência possível” – ou seja, enxergar ou ir além do óbvio. Já o espírito é tido como “a parte imaterial do ser humano, a alma”.

Compreender cada uma dessas palavras pode nos ajudar a identificar dentro de nós o nos que estimula a prática espiritual. O filósofo Mário Sérgio Cortella explica, em vídeo na internet, que a espiritualidade é a recusa que a vida se esgote na sua materialidade, em uma existência que tem sentido em si mesma.

“Nessa direção, a ideia de espiritualidade está conectada à noção de transcendência. Isto é: as coisas, a vida, o sentido é construído para a além do imediato, do momento. É estar mergulhado em uma história que faz sentido pela própria capacidade de honrar a vida”, avalia.

Para honrar a vida, sugere, é necessário ter uma vida decente. “O que é a vida indecente? É aquela que quebra a beleza da possibilidade de existir. Eu não sou tolo e não quero sê-lo ao supor que vida é só beleza, mas a beleza não emerge, não vem à tona quando nós a obscurecemos, quando somos capazes de fazer com que os ‘apesares’ da vida sejam superiores em quantidade aos ‘por causa’.”

Como praticar a espiritualidade?

Praticar a espiritualidade pode ser dar mais valor ao que faz a existência brilhar. Mas como fazer isso? Em um podcast sobre o assunto, o historiador Mariano Azevedo avalia que espiritualidade foge ao escopo da questão da religião. “Seria muito mais um processo poderoso de introspecção, de autoconhecimento, de elevação da sua consciência com relação às coisas que estão além do seu alcance”, afirma.

Conhecer a si próprio, suas crenças, valores e propósito são ações que nos estimulam a encontrar a espiritualidade dentro de nós mesmo. A meditação, aliás, é uma prática que auxilia, e muito, nessa conexão interior – mas não só ela. Pode ser uma meditação ativa, feita ao ouvir uma música, ler um poema, dançar, cuidar das plantas, fazer atividade física ou, até mesmo – acredite – durante um trabalho: quem nunca se sentiu completamente conectado com o momento presente ao fazer algum trabalho que proporcionasse prazer?

O teólogo e filósofo Leonardo Boff sugere que a praticar a espiritualidade é um modo de ser. “É uma atitude fundamental, vivida na cotidianidade da existência: na arrumação da casa, no trabalho na fábrica, dirigindo o carro, conversando com amigos. De repente, irrompe como que um lampejo de algo mais profundo e inexplicável”, escreveu em artigo publicado em seu site. Com isso, acrescenta, as pessoa se tornam mais centradas, serenas e irradiadoras de paz.

A arte muitas vezes nos conecta a esse mundo da beleza que às vezes deixamos esquecidos dentro de nós. O filósofo Rubem Alves tem uma bela passagem sobre esse assunto: “há seres privilegiados, eles bem que poderiam ser chamados de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles veem e ouvem aquilo que nós nem vemos nem ouvimos. Aí eles transformam o que viram e ouviram em objetos belos que os homens normais podem ver e ouvir. É assim que nasce a arte.”

Ponto de Deus: a espiritualidade na Ciência

Cientistas inclusive já defendem a existência da chamada “inteligência espiritual”. A física e filósofa americana Dana Zohar aborda esse conceito no livro “QS Inteligência Espiritual”. Segundo Leonardo Boff, o livro é baseado em pesquisas que identificaram o chamado “ponto Deus no cérebro”, o que significa que essa profundidade espiritual tem base biológica.

Boff completa que pessoas que em suas vidas deram espaço significativo ao profundo, ao espiritual, revelam nos lóbulos frontais do cérebro uma excitação detectável acima do normal. Lóbulos que, por sua vez, são ligados ao sistema límbico, o centro das emoções e valores. “Aí se dá uma concentração naquilo que tais cientistas chamaram de ‘mente mística’ (mystical mind).”

Dessa forma, a estimulação do “ponto de Deus” não está ligada a uma ideia ou a algum pensamento objetivo, garante, mas “é ativado sempre e quando a pessoa se sente emotivamente envolvida com os contextos globais que conferem sentido à vida, ou quando, de forma autoimplicada, se referem ao Sagrado, a temas religiosos ou diretamente a Deus”.

Ou seja: independentemente de religião ou crença, praticar a espiritualidade tem muito mais a ver com conhecer-se com clareza, viver com propósito e enxergar a beleza nas pequenas coisas da vida. É o mesmo que ter “Deus” dentro de si – não um Deus religioso, mas uma força interior. “Este Deus interior é amor, o qual nas palavras de Dante, no final de cada livro da Divina comédia, ‘move os céus e as estrelas’, – e nós acrescentamos: e nossos próprios corações”, assegura Boff.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria

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