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Filosofia, Mente

Viver apressadamente só nos traz atrasos

11 de setembro de 2017

“O apressado come cru”, “a pressa é inimiga da perfeição”. A sabedoria popular nos ensina que a pressa não é uma boa companhia para as nossas vidas. Estamos cansados de saber disso, mas na prática é difícil eliminá-la do nosso dia a dia, não é mesmo? Uma boa maneira de aprender a como ter mais calma e paciência é olhar por outra ótica: perceber que viver apressadamente na verdade só nos traz atrasos.

Como termos mais calma e paciência

“Sempre que tive pressa, dei um passo pra trás”, garante o empresário Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai. Tanto no âmbito pessoal como profissional, ele afirma que a ansiedade o fez voltar muitas casas no “jogo da vida”. “Essa postura sempre me atrapalhou. Sempre tive pressa e ansiedade.”

Nos negócios, ele já aceitou mais clientes do que tinha capacidade de suportar; entrou em sociedades que não tinham solidez pensando apenas em resultados futuros que nunca chegavam. Na vida pessoal, precipitou-se ao entrar em um casamento sem o relacionamento estar maduro o suficiente. De nada adiantou ser tão apressado: chegou a receber pedidos de falência de empresas e precisou rever o casamento.

“A pergunta que a Filosofia do Bonsai faz é: qual é o tamanho do seu jardim? De quantos bonsai eu posso cuidar?”, sugere Alexandre. “Se eu quero ser um diretor, então é preciso saber da responsabilidade que envolve ter essa função em uma empresa. Você está disposto a assumir essa responsabilidade? Se sim, você pode seguir passo a passo o caminho para alcançar esse desejo.”

O prazer está na jornada

O que acontece é que muitas vezes queremos ser diretores, mas com responsabilidades de analistas, e isso não é possível. “O grande erro do ser humano é não saber o que ele quer”, avalia Tagawa.

Quem realmente gosta das funções executadas por um diretor, por exemplo, não vai ter pressa em atingir o posto sem antes aprender tudo o que é necessário para tal – afinal, o aprendizado será prazeroso em si.

“Com paciência, visão de futuro, planejamento, é aí que você consegue atingir a maturidade”, defende Tagawa. Quem cuida de um bonsai, por exemplo, sabe que leva muito tempo para a miniárvore ser moldada e ficar com galhos exóticos e bonitos. O bonsaísta tem consciência disso, mas se envolve no percurso até atingir o objetivo.

Sábia frase atribuída ao escritor britânico Gilbert Keith Chesterton diz: “uma das grandes desvantagens de termos pressa é o tempo que isso nos faz perder.” Em entrevista disponível no YouTube, o filósofo Mário Sérgio Cortella diz que há uma diferença entre pressa e velocidade. “Viver apressadamente não é viver velozmente. Velocidade é sinal de habilidade. Pressa, de desorganização e despreparo.”

Alma, Espiritualidade

Como alcançar as estrelas sem tirar os pés do chão

5 de setembro de 2017

Se as coisas são inatingíveis… ora!/ Não é motivo para não querê-las…/ Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas!”. O poema de Mário Quintana nos inspira a não desistirmos dos nossos sonhos, por mais distantes que pareçam estar. Afinal de contas, as coisas só acontecem quando temos a coragem de dar o primeiro passo. Contudo, na hora de estabelecermos desejos e metas é preciso ter sabedoria. Com paciência e foco é possível alcançar as estrelas sem tirar os pés do chão.

Alcançar as estrelas é possível

Alcançar as estrelas sem tirar os pés no chão significa ter consciência das dificuldades existentes na trajetória rumo à concretização de um desejo. É como diz sábia frase atribuída ao filósofo Sêneca: “a coragem conduz às estrelas, e o medo à morte.”

“Manter os pés no chão”, de acordo com o Dicionário Informal, é se manter na realidade, ou seja, viver sem ilusões, viver a vida como ela é. Dessa forma, o caminho rumo a um sonho pode ser longo e cheio de curvas e bifurcações, o que faz com que muitos desistam de prosseguir.

“Muitas vezes a gente acaba tendo crenças que são limitantes. Ou seja, a gente fica preso a coisas que impedem a gente conseguir tocar as estrelas”, acredita Alexandre Tagawa, idealizar da Filosofia do Bonsai.

Crenças limitantes são aqueles pensamentos formatados na nossa mente sobre determinado assunto que nos impedem de realizar objetivos. Um exemplo é quando afirmamos internamente para nós uma verdade sobre algo sem questionar o fundamento, por exemplo: dinheiro é sujo. “Se eu criei essa crença, como vou fazer para aceitar que o dinheiro pode ser bem vindo, bem utilizado e que necessitamos dele?”, avalia Tagawa.

Que estrela te guia?

Conhecer as próprias raízes e valores é uma forma de conseguirmos identificar quais são nossas crenças e o que realmente queremos para nós – um ponto crucial para irmos na direção desse desejo, dessa “estrela a ser buscada”.

Depois disso, é preciso ter disciplina para cuidar do corpo e da mente, que compõem o “veículo” que nos levará até o céu, rumo às constelações. De acordo com a Filosofia do Bonsai, esse cuidado está representado pelo pilar “tronco”, e inclui práticas como meditação, respirações, rituais, atividades físicas e alimentação saudável.

“Céu, terra, pé no chão e tronco erguido, é isso que te norteia. Se você não trabalhar esse meio – esse tronco – dificilmente você vai tocar as estrelas”, defende Tagawa, que confessa ter demorado a compreender a importância do equilíbrio na concretização de seus objetivos.

“Você é o seu movimento. Você é aquilo que se dispõe a fazer. Se você se dispor à ignorância, a vida vai te entregar ignorância. Se você se dispor a entender a sua existência, a vida te devolverá complexidade. Quanto mais você se aprofunda, mais complexo fica. Por isso as pessoas desistem no meio do caminho: não aguentam ir até o final. Mas se você for até o final, você pode tocar as estrelas sem tirar os pés do chão.”

Autodesenvolvimento, Mente

Autobiografia em 5 capítulos: um poema para a vida

1 de setembro de 2017

No decorrer das nossas vidas, é frequente seguirmos padrões repetitivos de comportamento que sempre nos levam para a mesma direção: cair no buraco. Há um sábio poema escrito pela escritora norte-americana Portia Nelson que serve de inspiração para evitarmos novas quedas, aprendendo com cada uma delas. Chamado “Autobiografia em 5 capítulos”, o poema é conhecido mundo afora e é citado no livro “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, um clássico da espiritualidade e bestseller internacional.

Conheça o poema “Autobiografia em 5 capítulos”

O poema abaixo é praticamente um mantra de Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai. “Conhecer esse poema foi muito importante pra mim e me fez refletir sobre quanto eu posso evoluir com meus erros, reflete. O empresário foi apresentado ao texto em um dos cursos que fez no Instituto Tadashi Kadomoto, que aplica treinamentos comportamentais e vivenciais para o desenvolvimento pessoal.

Autobiografia em 5 capítulos (do “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”)

  1. Ando pela rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Eu caio.

Estou perdido… sem esperança.

Não é culpa minha.

Leva uma eternidade para encontrar a saída.

  1. Ando pela mesma rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Mas finjo não vê-lo.

Caio nele de novo.

Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.

Mas não é culpa minha.

Ainda assim leva um tempão para sair.

  1. Ando pela mesma rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Vejo que ele ali está

Ainda assim caio… é um hábito.

Meus olhos se abrem.

Sei onde estou.

É minha culpa.

Saio imediatamente.

  1. Ando pela mesma rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Dou a volta.

  1. Ando por outra rua.

Padrões comportamentais repetitivos

No “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, o lama Sogyal Rinpoche diz que caímos com frequência em arraigados padrões repetitivos de comportamento e começamos a nos ansiar por nos livrar deles. “Podemos, é claro, recair neles muitas e muitas vezes, mas lentamente saímos deles até a mudança acontecer.”

No livro, aliás, o autor usa o poema para nos instigar a refletir sobre a morte – o que tendemos a evitar, não é mesmo? Contudo, apesar de nunca pensarmos sobre esse fato inegável da vida, é quase inevitável cairmos no buraco quando ela chega até nós. “A finalidade de refletir sobre a morte é fazer uma mudança real nas profundezas do seu coração e chegar a aprender como ‘evitar o buraco na calçada’ e como ‘andar por outra rua’.”

Mudar padrões repetitivos, salienta o lama, com frequência vai exigir um período de retiro e de profunda contemplação. “Somente isso pode abrir nossos olhos para o que estamos fazendo da nossa vida”, sugere. A recomendação dele vai ao encontro da proposta da Filosofia do Bonsai, que propõe momentos de introspecção diária por meio da meditação ou meditação ativa.

Tagawa, aliás, usa o poema para refletir sobre as escolhas, o que acredita ser fundamental para o processo de aprendizado e amadurecimento. É por meio da prática da Filosofia do Bonsai que ele consegue se manter equilibrado, aumentando seu nível de consciência. Além da meditação, entre as práticas diárias realizadas por ele estão: realizar exercícios físicos, uma alimentação equilibrada e os rituais. “A partir do momento que eu tenho essa prática eu não preciso mais voltar ao Capítulo 1, eu consigo navegar entre o Capítulo 3 e o Capítulo 5”.

De acordo com Tagawa, claro que na vida há momentos que caímos no buraco – mas o equilíbrio ajuda a sairmos dele rapidamente ou sequer andarmos pela rua onde ele está. “Então, preste atenção se você está caindo em um buraco e levando uma eternidade pra sair, se você está acostumado a conviver com essa situação ou acostumado a deixar com que a vida siga sem muita reação sua para fazer diferente”, aconselha.

Filosofia, Mente

Querer fazer tudo ao mesmo tempo só desequilibra a nossa vida

1 de setembro de 2017

Querer fazer tudo ao mesmo tempo é ânsia de muitos de nós. O problema disso é que invariavelmente ficamos frustrados ao perceber que tal pretensão é impossível de ser realizada. Como se não bastasse, quanto mais atividades tentamos fazer de uma vez, maior a probabilidade de nenhuma delas ficar bem feita. Quando isso ocorre, “fazemos o mínimo de tudo e o máximo de nada”, explica Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, e esse comportamento que só desequilibra a nossa vida.

Evite fazer tudo ao mesmo tempo

“Eu percebi que eu fazia o mínimo de tudo e o máximo de nada em todas as coisas da minha vida. Com isso, eu não fazia nada exemplar, nada 100%”, revela Tagawa, que seguiu tal comportamento por muitos anos, até perceber que precisava mudar.

O que nos faz agir de tal maneira é a ansiedade. Temos tantas atividades a serem realizadas ao longo do dia que não queremos abrir mão de nenhuma delas. Com isso, mal começamos a fazer algo e deixamos pela metade para conseguir dar conta de outra coisa, e assim por diante.

No livro “O Poder do Agora”, o escritor alemão Eckhart Tolle menciona uma sábia citação de Jesus Cristo: “‘por que vocês estão sempre ansiosos?’, perguntou Jesus aos seus discípulos. ‘Será que os seus pensamentos ansiosos podem acrescentar um simples dia às vossas vidas?’”.

‘Ter cinco garrafas e três tampinhas’

Tagawa afirma que agia dessa maneira tanto na vida pessoal como profissional. “Eu fazia o mínimo de tudo porque eu queria dar conta, mas você não consegue fazer tudo”. Na vida pessoal, se matriculava em cursos que não conseguia frequentar ou confirmava a presença em encontros entre amigos, mas não ia. Praticava vários esportes, mas sem qualquer rotina.

“Na minha empresa eu não delegava, eu era extremamente centralizador e não dava autonomia para que alguém pudesse fazer. Eu era cabeça dura”, avalia. Além disso, o empresário tinha dificuldade de dizer não a novos clientes ou projetos. O resultado é que o trabalho se acumulava e, como consequência, atrasos e erros aconteciam.

“A gente ficava sempre na corda bamba, vamos dizer assim. Então a empresa faturava e não sobrava dinheiro. A gente estava sempre com cinco garrafas e três tampinhas: tampa aqui, destampa ali.”

De quantos bonsais você consegue cuidar?

Depois de tanto apanhar, virar noites trabalhando para cumprir prazos e ter que refazer serviços, Tagawa percebeu que precisava mudar a maneira de atuar. “Se tenho muitos clientes e não consigo entregar um padrão de trabalho e resultado, devo reduzir os clientes”, afirmou.

A Filosofia do Bonsai o ajudou nesse sentido. Ele costuma fazer uma analogia entre uma plantação de eucaliptos e um jardim de bonsai: “o eucalipto tem um raiz curta, só estraga a terra [na plantação], é plantado e vendido em quantidade. O bonsai não. Não existe bonsai igual a outro, como não existe cliente igual a outro, nem uma pessoa igual a outra. Cada bonsai é único, ele tem a sua característica”.

Diante disso, a pergunta que devemos fazer quando nos pegamos querendo fazer tudo ao mesmo tempo é: “Qual o tamanho do jardim? De quantos bonsai eu consigo cuidar? Bonsai é equilíbrio. Que equilíbrio eu gostaria de dar ao meu negócio, à minha vida?”, questiona Tagawa.

Alimentação, Corpo

‘Mindful eating’: o que é comer consciente e como a prática pode mudar sua relação com a alimentação

25 de agosto de 2017

A vida apressada muita vezes nos impede de prestar atenção em uma importante necessidade de nosso corpo: a alimentação. Comer depressa, sem mastigar direito ou olhar para o alimento infelizmente é um hábito cultivado por muitos de nós. Contudo, dar a devida atenção ao ato de se alimentar é imprescindível para ter uma vida mais equilibrada e saudável. Essa necessidade pode ser sanada por um ato simples: o “comer consciente” – uma tradução do termo mindful eating, que nada mais é do que comer com intenção e atenção.

Como praticar o ‘comer consciente’

Alimentar-se depressa e devorar lanches dentro do escritório, em frente ao computador, em pé ou enquanto estamos fazendo outra coisa é um hábito que, no longo prazo, além de causar estresse pode dar origem a transtornos alimentares.

Comer consciente é o oposto do mencionado acima. É dar a devida atenção ao ato de se alimentar no momento em que ele está ocorrendo: mastigar devagar, prestar atenção nos sabores dos alimentos, na saciedade e nos sinais do corpo na hora da alimentação. Essa consciência e atenção plena deve ocorrer inclusive no processo de escolha dos alimentos.

Alimentar-se deveria ser uma atividade natural, saudável e prazerosa para saciar a fome, explica a nutricionista Isabella Zanoni em sua página na internet.

“Ao estabelecer uma relação consciente com a comida você estará também conhecendo os efeitos da comida em você, colocando essa prática no seu cotidiano”, analisa Isabella, que acrescenta: os benefícios dessa consciência são diminuição do stress, o que por sua vez, reduz a chance de você comer por pura razão emocional.

A alimentação consciente e o ‘mindfulness’

O mindfulness é um termo contemporâneo usado para definir um estilo de vida focado no momento presente. Isso ocorre por meio de um estado mental de controle sobre nossa capacidade de se concentrar nas experiências, atividades e sensações do “aqui e agora”. Tal benefício ocorre principalmente por meio de práticas de meditação.

O mindful eating é um braço do mindfulness. “Na alimentação consciente podemos encontrar uma nova forma de nos relacionar com o alimento, e dessa relação vivenciar o pertencimento, reconhecendo diferentes tipos de fome, desde a que está relacionada ao estômago e à necessidade celular até a fome de conexão, amor e carinho, sendo que as últimas podemos saciar com a ‘presença’ de nós mesmo, do outro e do todo”, afirma a nutricionista Driele Quinhoneiro, instrutora mindful eating, em artigo publicado na página do Centro Brasileiro de Mindful Eating.

Por isso, é importante estarmos atentos ao nosso corpo e às nossas necessidades. Muitas vezes comemos por ansiedade e estresse – e não por estarmos realmente com fome. “Ao não saber muito bem como nos sentimos e quais são as sensações corporais das emoções, tratamos muitas vezes isso como fome, aquela sensação de vazio que não sei muito bem o que é e tento preencher com comida”, explica Driele.

Afinar a relação entre corpo e mente, assim como o proposto pela Filosofia do Bonsai, nos ajuda a entender o que nos guia a começar e a parar de comer. O exercício é praticar diariamente a atenção plena na hora de se alimentar. O resultado pode ser uma diminuição do alimento ingerido, uma alimentação mais devagar, refletindo em maior saciedade e bem-estar após a alimentação. Afinal, “guiar a alimentação por essa aproximação com o corpo denomina-se utilizar a sabedoria interna”, esclarece a especialista.

Autodesenvolvimento, Mente

Diário das três bênçãos: exercite a gratidão no dia a dia e estimule pensamentos positivos

24 de agosto de 2017

Por Gabriela Gasparin

A palavra “gratidão” está na moda nos dias atuais – sendo muitas vezes substituída pelo tradicional “obrigado ou obrigada”. Ao ouvi-la com frequência, desperta em nós o desejo, ou ao menos a curiosidade, sobre como seria exercitar a gratidão no dia a dia. Afinal, não basta apenas externalizar uma palavra a esmo sem estar interiormente grato. Existe um exercício simples chamado “Diário das três bênçãos” que, se realizado todos os dias, promete nos levar a uma verdadeira mudança interior – abrindo espaço na nossa mente para o agradecimento.

Como exercitar a gratidão no dia a dia

Apesar de a palavra gratidão estar em voga nos dias atuais, os benefícios de praticá-la, como todos sabemos, não são nenhuma novidade. “As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo”, já dizia o filósofo grego Epicuro.

Especialistas afirmam que a prática do “Diário das três bênçãos”, um exercício da Psicologia Positiva, tem base científica comprovada e é verdadeiramente eficaz ao trazer bem-estar aos praticantes, aliviando irritação, mau humor e proporcionando pensamentos otimistas e positivos.

De acordo neurocientista Pedro Calabrez, é cientificamente comprovado que a mente humana é mais voltada para o lado negativo do que positivo. Por conta disso, precisamos exercitar o lado otimista dos pensamentos para que os pessimistas não nos consumam – assim como um músculo que fica flácido se não é utilizado.

“É fácil você perceber como a dor de perder mil reais é maior do que o prazer de ganhar mil reais. Curiosamente, a gente sabe que é a mesma coisa, mas a dor é maior”, afirmou Calabrez, em entrevista à rádio CBN.

Pratique o Diário das Três Bênçãos

O Diário das Três Bênçãos é um exercício simples e rápido para ser feito diariamente antes de dormir, explica Calabrez. É importante que seja um ritual diário, para que a mente se acostume a pensar nas coisas boas todos os dias. Aliás, o exercício funciona muito bem se combinado com o ritual matinal de intenções proposto pela Filosofia do Bonsai – saiba como fazer um ritual matinal aqui.

Passo a passo:

1 – À noite, antes de dormir, anote em um caderninho ou no computador três coisas que aconteceram de positivo durante o seu dia. Não é necessário que sejam coisas mirabolantes ou excepcionais, podem ser coisas boas, mas simples. Por exemplo: “recebi uma mensagem de WhatsApp que me fez bem”; “minha esposa ou marido (ou parceiro/a) me trouxe um sorvete favorito na volta do trabalho”; “chegou uma compra que fiz pela internet de algo que eu queria ou precisava muito”.

2 – Ao lado dos itens, escreva “por que são coisas positivas” ou “por que elas aconteceram”. Por exemplo: “a mensagem de WhatsApp era de um amigo/a que eu estava com saudade e ele/a lembrou de mim”; “minha esposa (marido ou parceiro/a) mesmo cansada após um dia de trabalho ainda se preocupa em me agradar” ou “ele/ela me trouxe o sorvete porque eu lembrei de pedir para trazer pois eu queria”; “é muito bom eu ter o livro que eu comprei em mãos, pois agora posso lê-lo e isso me fará bem”.

3 – Faça isso diariamente e avalie os efeitos positivos da prática. Perceba como você se sente após fazer a anotação das coisas boas que aconteceram e se isso provocou uma sensação boa, de bem-estar.

A intenção é que o exercício se torne um hábito diário. “Depois de um mês prometo que você vai se sentir um pouco melhor. Você vai estar treinando e forçando a sua cabeça a olhar paras coisas positivas que acontecem e fugir um pouco da negatividade”, garante Calabrez.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria

Corpo, Saúde

Respirar corretamente é sinônimo de saúde para o corpo e a mente

16 de agosto de 2017

“Inspire, expire e conte até dez”. Quem nunca ouviu tal conselho para lidar ante situações de estresse ou nervosismo? O poder da respiração para acalmar os pensamentos é popularmente disseminado, mas a recomendação tem um fundamento científico. Respirar corretamente é sinônimo de saúde para o corpo e a mente, aumentando a resistência imunológica e aliviando doenças mentais.

A importância de respirar corretamente

Todos sabemos que precisamos de ar, água e alimentos para nos mantermos vivos. Contudo, desses três itens, o único que fazemos de forma automática é respirar. A consequência disso é que praticamente não prestamos atenção na nossa respiração ou sequer nos damos conta que estamos respirando, explica Marcos Netter, em seu livro “Respiração: poder mental”.

Só nos damos conta da respiração quando sofremos de algum problema respiratório que nos imponha restrição ou dificuldade. “Embora você com certeza tenha controle sobre sua respiração, não precisa estar consciente do ato de respirar para que o processo aconteça”, salienta, acrescentando que, por conta de ser um processo automático, muitos de nós respiramos de forma incorreta. “Respirar corretamente é sinônimo de uma saúde melhor e de maior resistência aos microorganismos responsáveis por doenças”, reforça.

Respiração agitada e o estresse

No dia a dia apressado, muitas vezes respiramos de forma agitada, enviando quantidades insuficientes de oxigênio para os pulmões em ritmos mais rápidos. “Vários fatores levam à respiração incorreta, como postura, obesidade, roupas muito apertadas e o estresse, tão presente em nossas vidas e responsável pelo respirar entrecortado”, afirma.

De acordo com a organização internacional Arte de Viver, que difunde mundo afora técnicas de respiração e meditação, o estresse causa muitos efeitos no nosso corpo, como dores de cabeça, problemas digestivos, dores no corpo e cansaço.

O estresse também afeta nosso cérebro, diz a entidade, impactando nossa capacidade de manter o foco e a concentração, além de limitar nossa habilidade de nos conectar com amigos, afetando relacionamentos.

“O cérebro usa células chamadas neurotransmissores para se comunicar. Sob estresse o hormônio chamado cortisol é liberado no organismo, inibindo a função dos neurotransmissores, dificultando a comunicação das células do cérebro. Isso dificulta pensar claramente, motivo pelo qual ficamos confusos em crises ou situações estressantes”, explica um vídeo produzido pela Arte de Viver para explicar os efeitos da respiração no nosso organismo. O cortisol, que é o hormônio do estresse, também provoca uma reação química que diretamente mata as células do cérebro (os neurônios).

Respiração faz mente relaxar

A respiração é poderosa ferramenta que temos para “forçar” a mente a relaxar – isso porque simplesmente “pensar” e mandar nossa mente a ficar quieta não resolve – e todos sabemos disso pela prática, não é mesmo?

Segundo a entidade, há uma ligação direta entre a respiração e as emoções. “Podemos influenciar as nossas emoções com a respiração. Em vez de nos deixar levar por nossas emoções, podemos transformá-las através de técnicas específicas de respiração.” De acordo com a entidade, o nível do hormônio do estresse, o cortisol, é menor em praticantes da técnica de respiração Sudarshan Kria Yoga, por exemplo (que é ensinada pela entidade).

Há inúmeras técnicas de respiração que podem ser facilmente encontradas pela internet e em aplicativos no celular. Todas estão relacionadas a respirar profunda e pausadamente por alguns minutos, diariamente.

Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai faz a respiração pausada diariamente, durante sua meditação. O primeiro passo para começar a meditar, diz, é respirar. “Depois que eu repeti umas 40 vezes a respiração, já oxigenou bem o cérebro e os pensamentos começam a se dissipar”, explica.

A respiração ajuda a reduzir o estresse, ansiedade, resolver problemas, melhora a concentração e nos ajuda a lidar com questões complexas. Também aumenta o bem-estar e as emoções positivas. Entre os benefícios físicos, ajuda a reduzir o colesterol e aumentar a imunidade, pois estimula o sistema imunológico, diz a Arte de Viver.

O primeiro passo para quem quer começar a sentir todos esses benefícios é tão simples como… respirar. Contudo, exige disciplina e força de vontade. Afinal, como disse Buda, toda grande caminhada começa com um simples passo”.

Alma, Espiritualidade

Como praticar a espiritualidade, independente de religião, e mudar a forma de ver a vida

11 de agosto de 2017

Por Gabriela Gasparin

A espiritualidade é uma prática humana que não exige relação com qualquer religião e pode transformar a forma como enxergamos a vida. Ser uma pessoa espiritualizada é viver com sentido, com fé que a existência vale a pena por algo maior, transcendente e muitas vezes inexplicável. Praticar a espiritualidade pode ser muito mais simples do que se pensa: basta ser verdadeiro consigo mesmo. Trata-se de ser grato a cada dia, assumir responsabilidades sobre as próprias atitudes e tomar decisões com base em valores profundos e interiores.

O que é espiritualidade?

Elevação, transcendência e sublimidade estão entre os significados da palavra espiritualidade. Transcender, por sua vez, é “elevar-se aos limites da experiência possível” – ou seja, enxergar ou ir além do óbvio. Já o espírito é tido como “a parte imaterial do ser humano, a alma”.

Compreender cada uma dessas palavras pode nos ajudar a identificar dentro de nós o nos que estimula a prática espiritual. O filósofo Mário Sérgio Cortella explica, em vídeo na internet, que a espiritualidade é a recusa que a vida se esgote na sua materialidade, em uma existência que tem sentido em si mesma.

“Nessa direção, a ideia de espiritualidade está conectada à noção de transcendência. Isto é: as coisas, a vida, o sentido é construído para a além do imediato, do momento. É estar mergulhado em uma história que faz sentido pela própria capacidade de honrar a vida”, avalia.

Para honrar a vida, sugere, é necessário ter uma vida decente. “O que é a vida indecente? É aquela que quebra a beleza da possibilidade de existir. Eu não sou tolo e não quero sê-lo ao supor que vida é só beleza, mas a beleza não emerge, não vem à tona quando nós a obscurecemos, quando somos capazes de fazer com que os ‘apesares’ da vida sejam superiores em quantidade aos ‘por causa’.”

Como praticar a espiritualidade?

Praticar a espiritualidade pode ser dar mais valor ao que faz a existência brilhar. Mas como fazer isso? Em um podcast sobre o assunto, o historiador Mariano Azevedo avalia que espiritualidade foge ao escopo da questão da religião. “Seria muito mais um processo poderoso de introspecção, de autoconhecimento, de elevação da sua consciência com relação às coisas que estão além do seu alcance”, afirma.

Conhecer a si próprio, suas crenças, valores e propósito são ações que nos estimulam a encontrar a espiritualidade dentro de nós mesmo. A meditação, aliás, é uma prática que auxilia, e muito, nessa conexão interior – mas não só ela. Pode ser uma meditação ativa, feita ao ouvir uma música, ler um poema, dançar, cuidar das plantas, fazer atividade física ou, até mesmo – acredite – durante um trabalho: quem nunca se sentiu completamente conectado com o momento presente ao fazer algum trabalho que proporcionasse prazer?

O teólogo e filósofo Leonardo Boff sugere que a praticar a espiritualidade é um modo de ser. “É uma atitude fundamental, vivida na cotidianidade da existência: na arrumação da casa, no trabalho na fábrica, dirigindo o carro, conversando com amigos. De repente, irrompe como que um lampejo de algo mais profundo e inexplicável”, escreveu em artigo publicado em seu site. Com isso, acrescenta, as pessoa se tornam mais centradas, serenas e irradiadoras de paz.

A arte muitas vezes nos conecta a esse mundo da beleza que às vezes deixamos esquecidos dentro de nós. O filósofo Rubem Alves tem uma bela passagem sobre esse assunto: “há seres privilegiados, eles bem que poderiam ser chamados de anjos – aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza. Eles veem e ouvem aquilo que nós nem vemos nem ouvimos. Aí eles transformam o que viram e ouviram em objetos belos que os homens normais podem ver e ouvir. É assim que nasce a arte.”

Ponto de Deus: a espiritualidade na Ciência

Cientistas inclusive já defendem a existência da chamada “inteligência espiritual”. A física e filósofa americana Dana Zohar aborda esse conceito no livro “QS Inteligência Espiritual”. Segundo Leonardo Boff, o livro é baseado em pesquisas que identificaram o chamado “ponto Deus no cérebro”, o que significa que essa profundidade espiritual tem base biológica.

Boff completa que pessoas que em suas vidas deram espaço significativo ao profundo, ao espiritual, revelam nos lóbulos frontais do cérebro uma excitação detectável acima do normal. Lóbulos que, por sua vez, são ligados ao sistema límbico, o centro das emoções e valores. “Aí se dá uma concentração naquilo que tais cientistas chamaram de ‘mente mística’ (mystical mind).”

Dessa forma, a estimulação do “ponto de Deus” não está ligada a uma ideia ou a algum pensamento objetivo, garante, mas “é ativado sempre e quando a pessoa se sente emotivamente envolvida com os contextos globais que conferem sentido à vida, ou quando, de forma autoimplicada, se referem ao Sagrado, a temas religiosos ou diretamente a Deus”.

Ou seja: independentemente de religião ou crença, praticar a espiritualidade tem muito mais a ver com conhecer-se com clareza, viver com propósito e enxergar a beleza nas pequenas coisas da vida. É o mesmo que ter “Deus” dentro de si – não um Deus religioso, mas uma força interior. “Este Deus interior é amor, o qual nas palavras de Dante, no final de cada livro da Divina comédia, ‘move os céus e as estrelas’, – e nós acrescentamos: e nossos próprios corações”, assegura Boff.

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria

Mente, Vida Profissional

Com equilíbrio e planejamento, negócio sai de status ‘quebrado’ para ‘lucrativo’

8 de agosto de 2017

Abrir o próprio negócio exige planejamento e organização financeira. É o que o empresário Alexandre Tagawa, idealizador da Filosofia do Bonsai, aprendeu com os erros do passado. São dicas óbvias, mas ele “bateu muito a cabeça” até computar o aprendizado. E garante: focar no longo prazo, ter paciência e equilíbrio faz toda a diferença.

Recentemente Tagawa teve a chance de dividir o conhecimento com um jovem familiar que se desequilibrou ao empreender. Neste post compartilhamos a história de Maurício Tagawa, dono do restaurante de comida japonesa Sangawa.

Maurício quase colocou tudo a perder, mas conseguiu se reerguer e está organizando as finanças com as dicas que recebeu do primo Alexandre inspiradas na Filosofia do Bonsai. “Eles estavam quebrados e agora o negócio está saudável já”, afirma Alexandre, explicando que em três meses foi possível reverter o negócio do status “quebrado” para “lucrativo”.

Sonho de ter o próprio negócio

Formado em administração, Maurício, de 31 anos, trabalhou desde cedo com o pai no comércio de comida japonesa – seu pai comercializa os alimentos em feiras e eventos. A experiência fez ele gostar do ramo e não deu outra: ao ingressar na vida adulta, foi atrás de unir o útil ao agradável. Chegou a ter lanchonetes dentro de academias, mas não era bem o que queria. Em 2017 é que realizou o sonho de abrir o próprio restaurante de comida japonesa, o Sangawa.

Junto com a concretização do objetivo, porém, vieram os contratempos. Sem organização financeira, as dívidas surgiram rapidamente e o estabelecimento já abriu as portas no vermelho.

De acordo com Maurício, uma sequência de fatos atrapalhou a decolagem do negócio, como a contratação de pessoas erradas e o roubo de um automóvel. “Tínhamos vendido nosso carro para usar o dinheiro e colocar no negócio. Pegamos um outro bem mais barato, mas com menos de um mês de uso, o roubaram”.

Além disso, a abertura da loja atrasou quase três meses. “Esse tempo parado fez minha conta do banco estourar. Parecia um pesadelo, nem gosto de lembrar”, desabafa. E acrescenta: “a coisa estava tão feia que até peso perdi, foram quase 8 quilos.”

Ou muda ou fecha

Em um almoço com o primo Alexandre Tagawa, Maurício comentou sobre a situação financeira em que se encontrava e recebeu o seguinte alerta: “ele logo falou que precisávamos mudar ou em menos de um mês iríamos quebrar, pois a dívida era muito grande.”

Com base em suas experiências anteriores, Tagawa montou um plano de ação para ajudar o primo a evitar a quebra. Ambos são bem próximos e o primeiro emprego de Maurício inclusive foi na agência de publicidade do primo, o que facilitou no processo de “consultoria” criado por Tagawa.

Organizando a casa

A palavra-chave para a mudança, segundo Maurício, foi organização. E é aí que entra a Filosofia do Bonsai. Isso porque, segundo o empreendedor, ele e sua esposa Juliana Santana, que são sócios, estavam tão desesperados com a situação que não conseguiam parar para pensar sobre o que fazer. “Ele falou que deveríamos acalmar e começar a organizar”, revelou.

Por conta das dívidas, o estado psicológico dos sócios ficou abalado e eles não conseguiam enxergar uma luz no fim do túnel. “Mesmo vendendo bem, existia muita desorganização. Acho que eu estava passando por uma fase tão difícil na vida do ponto de vista financeiro que acabou virando um desespero.”

Alexandre fez uma espécie de consultoria com o primo. Para isso, ele olhou tudo: conceito, caixa, gestão e descobriu o que eles estavam fazendo de errado. “Eles pegaram dinheiro em banco, se endividaram, não fizeram planejamento, não entenderam que tem juros”. Isso porque, ao antecipar com o banco os recebimentos dos cartões, as taxas são altíssimas. Além disso, ambos misturavam as despesas pessoais com as da empresa em uma conta só.

Entre as principais mudanças propostas por Alexandre estão: fazer um planejamento financeiro, definir um pró-labore, cortar gastos pessoais (reduzir o padrão de vida ao máximo a princípio), administrar as dívidas e priorizar o pagamento das mais importantes primeiro.

Disciplina

Enquanto isso, o casal está “pagando o preço” da desorganização e trabalhando pesado. Eles trabalham de segunda a segunda, de 13 a 14 horas por dia. É claro que se trata de um período de ajustes apenas para quitar as dívidas, e não será sempre assim. Segundo Maurício, o que o mantém é a felicidade de ter aberto a loja, mas em breve contratará um funcionário para ajudar.

“O mais difícil de cortar gastos é não ter funcionário, porque trabalhar direto sem descansar é bem complicado. Tem dias que tudo dói (referindo-se a dores musculares), mas sabemos que é para o bem.”

De acordo com Alexandre, o dinheiro está entrando e aos poucos o casal está quitando as dívidas. “Ele continua antecipando o crédito, então ele ainda está pagando uma taxa de juros alta. Até um tempo ele vai pagar, até fazer capital de giro suficiente para deixar de antecipar o cartão”, explicou.

Maurício afirma que está seguindo à risca as recomendações do primo. “Sempre falo que nunca mais quero passar pelo que passamos. Já ficou mais do que claro o que não devemos fazer.” E garante que está dando muito certo. “Tenho certeza de que até final do ano teremos o capital de giro que planejamos juntos.”

Equilíbrio para crescer

Assim como na vida, é preciso equilíbrio também nos negócios para alcançar a prosperidade, diz Alexandre, citando a Filosofia do Bonsai. “Ao abrir o negócio próprio, o equilíbrio chega com o planejamento. Se você pensar no curto prazo, você não vai conseguir crescer. E a paciência é fundamental.”

Segundo o empresário, na hora em que o casal entendeu o propósito em relação ao negócio deles e mudou a perspectiva de enxergar isso, eles conseguiram se organizar. A lógica é focar nas ações prioritárias visando os resultados no futuro. Para isso, é preciso saber onde se quer chegar. “Na hora que você consegue fazer esse desenho, automaticamente você consegue ter resultado.”

Alma, Propósito

Desacelere: por que a vida agitada nos torna escravos de nós mesmos

31 de julho de 2017

Por Gabriela Gasparin

Você já se pegou sendo pressionado por si mesmo para fazer mais do que faz rotineiramente, para render mais, realizar-se mais, “ser” além do que é? Ou às vezes, mesmo sem ser intencional, compara sua vida com a de outras pessoas (seja pelo Facebook ou na vida real), avaliando quem é mais “interessante”, mais descolado e bem realizado?

A cobrança para agir mais e ser autêntico é frequente nos dias de hoje. Somos pressionados por ter sucesso, “fazer e acontecer”. O resultado é que, com tantas expectativas, é fácil ficarmos perdidos ou decepcionados com nós mesmos. E o mais curioso, buscamos não só a aprovação dos outros, como a nossa própria, e nos frustramos com as expectativas que criamos, ficando escravos desse ciclo.

Por que ficamos escravos de nós mesmos?

Com tanta cobrança, interna e externa, muitos de nós ficamos cansados de buscarmos sermos melhores, mais produtivos, alcançarmos o sucesso – seja lá o que isso signifique. No livro “Sociedade do Cansaço”, o filósofo Byung-Chul Han diz que a sociedade ativa moderna vive em estado de “histeria e nervosismo”, situação acarretada por uma autocobrança e necessidade de produzir mais e melhor constantemente.

De acordo com o autor, esse estado causa esgotamento e depressão nos indivíduos. Não somos mais cobrados por fatores externos, como um patrão ou a escala de trabalho da empresa. A cobrança atual, diz, vem de nós próprios, em uma era onde somos “soberanos de nós mesmos”.

Descoberta de um propósito

Esse cidadão dono de si, empreendedor e protagonista cobra-se avidamente para descobrir “quem ele é”, seu propósito, e o que ele nasceu para fazer na vida com muita rapidez. Contudo, essa descoberta não acontece de um dia para o outro, como os tempos atuais nos pressionam. Pelo contrário: leva tempo, dedicação e exige verdadeira busca.

Como resultado, avalia o autor, temos uma liberdade paradoxal, pois ficamos presos à nossa própria autocobrança por “acontecer” e pelo esforço de termos de ser nós mesmos, de descobrirmos quem somos e para que viemos ao mundo. “O autor é ao mesmo tempo explorador e explorado”, avalia.

Insatisfação que nos deixa exaustos

Em reflexão parecida, no livro “Por que fazemos o que fazemos” o filósofo Mario Sérgio Cortella avalia que existe um tipo de insatisfação que é positiva, aquela que nos move a querer mais e melhor. Mas há também uma insatisfação negativa: que é aquela que nos consome tanto que nos deixa exaustos. “Se você passa o tempo todo em estado de sofreguidão, em busca de algo – mesmo que já tenha, quer sempre um patamar acima – sem que haja possibilidade de agregar aquilo como uso e fruição, qual o sentido?”, questiona.

No livro “Vida ativa”, de Parker J. Palmer, o autor avalia que muitas vezes nossa ação, na verdade, é uma reação – ou seja, agimos por impulso, sem saber exatamente o motivo ou o fruto que queremos colher de tal ato. Ele diz: “esse ‘fazer’ não brota de corações livres e independentes, mas depende de provação externa. Não provém de nossa percepção do que somos e do que queremos fazer, mas da ansiosa leitura de como os outros nos definem e daquilo que o mundo exige.”

A importância do tempo para a contemplação

Vivemos em uma sociedade do desempenho, da produtividade, e ficamos esgotados sem tempo para a reflexão ou para a meditação. Byung-Chul Han sugere que a exaustão ocorre porque não temos espaço para a lacuna, para a contemplação.

Por contemplação entende-se aquele momento de passividade consciente – ou até mesmo atividade passiva, explica Palmer.  É ter momentos contemplativos para mudar nossa consciência sobre como de fato agir. É sabermos o motivo da ação, o porquê a fazemos.

“A função da contemplação em todas as suas formas é penetrar a ilusão e auxiliar-nos a contatar a realidade”, diz o autor. Pode ser a tradicional meditação, mas também o exercício de uma tarefa como ler um livro, limpar a casa ou cuidar de um filho – desde que a pessoa esteja com o pensamento tranquilo.

Byung-Chul Han diz que há um lado ativo do não-fazer. “Na meditação zen, por exemplo, tenta-se alcançar a negatividade do não-para, isto é, o vazio, libertando-se de tudo que aflige e se impõe.”

* Gabriela Gasparin é jornalista, escritora e autora do livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”. É também criadora do blog Vidaria.